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terça-feira, 5 de junho de 2018

Lá na casa de farinha


Um cabra escabreado
Num mundo de faz de conta
Disse que perdeu as contas
Das contas que ele contou
No seu rosário de contas
No seu rosário de dor
Seu coração destroçado
Por uma tal Maria Flor


Maria Flor me disseram
Povo de boca miúda
Que ela era manteúda
De um certo coroné
Cabra mofino,treitero
Só matava de tocaia
Protegido por um punhado
De homens da mesma laia

Zé de Carvalho sabendo
Dessa tramoia do cão
Fez trato com lobisomem
Que corre pelo sertão
Que matava só de susto
Cabra safado embusteiro
Ele era o sétimo filho
E o zé era o primeiro

Numa noite de lua cheia
Ouviram na escuridão
Os gritos de quem partiu
Para outra encarnação
Não sei se isso é verdade
Mas quem contou foi cancão
O cabra mais mentiroso
Lá das bandas do sertão

Maria Flor quando soube
Do fim desse coroné
Ficou numa alegria só
Querendo saber do zé
Mas zé estava esperando
O seu irmão retornar
Com a roupa do lado avesso
Pra desfazer o encanto
antes da manhã chegar

Por fim Zé de Carvalho
Venceu essa peleja do cão
Na noite de sexta feira
Junto com o seu irmão
Casou com Maria Flor
"O zé,é claro,bobão!"
Que pariu sete meninos
O último era bem franzino
E assim aconteceu
O que eu acabei de contar
Pra que gostou “muito bem !”
Pra que não gostou “azar”.

Renildo Borges

Diga psiu!

Diga psiu!
Não grite!
O amor é surdo
E se assusta facilmente
Com gestos bruscos


Antes ele gosta de olhar Só então se enamorar
Obter do olhar
a permissão
Tua mão na minha
Tu o rei
Eu a rainha
no reino de para sempre
mas se o claro se tornar escuro
e a paciência fugir de repente
Não grite!

Quem ouve bem
É o ódio
Escondido atrás
dos espelhos roxos
os olhos
tristes
olha a covardia estampada
em malditas madrugadas
de homens que pensam que amor é posse.


Renildo Borges

Esse nosso velho amor


Teus seios bonitos
Tuas curvas
Teu ventre
Teu gosto em minha boca
O calor das tuas coxas
Teu cheiro gostoso
de ontem e agora
Estão bem presente
em meu pensamento
parece tão jovem
esse nosso velho amor
que não cansa de nós dois



Você se maquia
driblando os anos
Sobe na esteira
Vai a pé pro trabalho
os cinco kilômetros
Sobe na balança
Faz bico emburrada
E briga com o tempo
Cremes ilusórios
Os olhos da cara
chá verde,de amoras
detox e agora...
pintando os cabelos
E esse nosso velho amor
acha tudo isso muito engraçado
E ainda se ri pelos cantos


Não vou a farmácia
Não compro aquilo
você sabe o que
Por que sou cardíaco
e posso morrer
mas vou lhe dizer
quando eu te toco
você tem apenas 24 anos
como no dia 1º de Maio de 1991
e esse nosso velho amor
também faz milagres
e ainda se ri pelas noites.


Renildo Borges

Amor ,ciúmes e outras drogas


Dentro do instante
num tempo escasso
fala o silêncio
dorme o cansaço
envelhecendo
toda a lembrança
pelo jardim
além de mim
tantos amores
inacabados
dança o ciúme
e os esqueletos
dos sonhos mortos
ao som da música
que canta o vento
em antigos portos
vai abafando
todo lamento
toda tristeza
e o vazio
por sobre a mesa
num prato frio
amores tortos
um desvario
que grita o dia
num assobio
na tempestade
na ventania
preces
lamentos
a agonia
desenterrados
detrás dos muros
do meu passado
há um passante
um viciado
guardando os restos
de uma droga estranha
chamado amor.


Renildo Borges