Translate

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Lá, onde passou o vento


De onde vem vento?
Passaste pelas caatingas nordestinas
Onde a beleza das moças não combina
Com a plantação murcha
O gado magro
As cacimbas secas
E as beatas orando
Pra São Luís Gonzaga
Com muita esperança
Sem nenhuma mágoa

Viu por lá minha Tereza
Cabocla bonita
Da cintura fina
E com o sorriso largo
Deu-lhe um afago?

Aqui nessa cidade de pedra
Vou construindo ilusão
Nessas manhãs tão frias
E quente o meu coração
Aprendi a fazer casas
Vazias como algumas mesas
Nas favelas
Nas baixadas
Pelos trens de madrugada
só queria a minha amada
Lá,onde passou o vento

De onde vem vento?
Passaste pelo sertão
Onde a cabocla brejeira
Mesmo que segunda feira
Depois de carpir roçado
Ainda é bela e tem cheiro
Da chuva no chão em Janeiro
Também andou nas cozinhas
E destampou as panelas
Sentindo o cheiro de doces
Do bolo de milho na panela
De ferro coberta por frande
E a s brasas espalhadas por cima
Lá fora o leite coalhando
Tuíca, a porquinha olhando
Com aqueles olhos espichados
Pensando no soro da coalhada no cocho

De onde vem vento?
Passaste lá nas aldeias
E viu Jurema dançar
No cerrado a borboleta
Pouco tempo pra voar
Os ribeirinhos em canoas
Saindo para pescar
Os quilombolas,
os quilombos
O tombo
Nos pampas gaúcho
Os escombros
De tudo que foi liberdade
Ainda somos escravos???


Renildo Borges

Nenhum comentário:

Postar um comentário