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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

O perigo das palavras


Se eu pudesse mudar o mundo apenas com palavras
Diria “tempo bom” e lá se ia a chuva e brilharia o sol
Então eu sairia para minha inutilidade costumeira
passear com meu cachorro,jogar dama numa mesa da praça
andar traquilamente com meu celular ligado,trombando gente,
poste e outras coisas que tivessem pela frente
e quando batesse aquela fome
veria que todas as árvores os seus frutos
e suas flores haviam morrido de sede


Se eu pudesse mudar o mundo só com palavras
Diria ao meu inimigo “morra” e lá estava ele estirado
No chão da minha desumanidade e mais tarde
Quando me batesse o arrependimento
Eu só teria o vento da tristeza a beijar-me o rosto
secando assim as minhas lágrimas

Se eu pudesse mudar o mundo só com palavras
Diria “comida” e lá estava comida para todo mundo
Ninguém levantando as 4 da manhã,não haveria trens ,
metros ou ônibus lotados,nem engarrafamentos
E todos morreriam com suas veias entupidas de gordura
Por falta de exercícios e os consultórios psiquiátricos
E psicológicos ficariam lotados de pessoas inúteis
Que não saberiam dizer para que elas servem

Se eu pudesse mudar o mundo só com palavras
Diria “vida sempre” e viveríamos para sempre
Até que nos amontoassem uns sobre os outros
Por falta de espaço nesse mundo tão pequeno
Conectado pela world wide web e lá íamos nós
Ver se em marte também se planta mandioca

Se eu pudesse mudar o mundo só com palavras
Diria “me ame” e roboticamente ela me amaria
Toda noite,todo dia... até que aquilo nos enchesse o saco
E então mudaríamos a programação para "stand by"
e se perdêssemos a paciência durante esse tempo
programaríamos para “me odeie”
Mas acho que a palavra ainda pode apertar o play
da sensibilidade humana,por isso escrevo poesias
emotivas,raivosas,amorosas,religiosas
e até algumas onde eu posso matar o burguês
Quem sabe alguém me ame por que sou poeta
e posso tudo através das palavras
ou talvez me odeie,afinal a palavra sempre
foi uma coisa muito perigosa
pois quando "o verbo se fez carne"
e habitou entre nós,nós o matamos.


Renildo Borges

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