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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Todos as falanges do dedo que aponta


Me chamaram para brigar
Eu briguei
Por que a raiva era tanta
Uma maldita herança
A mesma negra no rio
Lavando para sinhô
Trabaiando e passando fome
Os muitos trabaiadô
botando di comer no cocho
dos porcos brancos de raça
que disputava a negra
que ia ser estuprada
E apanhei


Me chamaram para a guerra
Eu fui
Matei homens como eu
Filhos da mesma miséria
Alimentado por ódios
Pátria minha e outras asneiras
Mas o ditador homem branco
Que come a carne do fraco
Sentado em sua mesa farta
Não estava em minha mira
E morri

Me chamaram para amar
E amei
Era uma moça bonita
Em seu vestido de seda
verde,amarelo e azul
A família toda acesa
Berrando vou deserdar
Se você continuar
Com esse teu pé rapado
Ele é apenas um soldado
Teu pai é um general
Me dei mal

Me mandaram fazer promessa
E eu fiz
Promessa pra Sâo longuinho
Para abrir os meus caminhos
Um despacho com ebó
Me aconselhou a velha Filó
E andei em procissão
Um pastor me deu carão
Imagem é idolatria
E confirmou minha tia
Da assembleia do dízimo
Perita em cientologia
Creio em Deus pai
Ave Maria!
E nada

Me chamaram para ler
E eu li
Li tudo que veio a mão
histórias,charges,sermão
revistas,imprensa marrom
Os contos dos irmãos grimm
a Bíblia “Abel e Caim”
gibi,romance,catecismo
e também todos os imos
da hipocrisia humana
estendida no varal
da vida feito cordel
Mas nunca fui coronel
nessa longa vida ao léu.


Renildo Borges

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