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sábado, 29 de julho de 2017

A deus dará


Ando comigo e com outros tantos
Que achei pela vida,nos becos e sem lares...
Lembranças ,saudades e algum pranto
Do amor que nunca tive os olhares


Ando comigo e com outros tantos
Que a ninguém perguntam
Só a deus dará
Se o preço da vida é essa dor que fica
Doendo ,doendo até acabar

Ando comigo e com outros tantos
Irmãos de tristezas e exclusão
Órfãos de amor e de algumas palavras
De colo,aconchego e de pão

Ando comigo e com outros tantos
Colhendo a dor que tu semeaste
Pra alimentarmos a coragem
e viver o papel
De estar à margem
e viver ao léu

Ando comigo e com outros tantos
Escrevendo a vida em dias cinzentos
Não perguntamos aos pássaros por que cantam
Nem ao homem que passa e se ri de nós
Apenas perguntamos a deus dará
Cadê nossa voz?

Renildo Borges

Essas moças!



Darei meu vestido branco
Sem as manchas do meu pranto
a moça linda que passa agora
com um sorriso encantador
a procura de um amor
Outrora
Também passei como ela
Era bela
Tinha vida
Meu corpo limpo sem malícias
Até que suas mãos me tocaram
Com cinismo
Com carícia
Minha beleza fugiu
E conheci a tristeza
Em madrugadas acesas
Eu procurando o amor
Na tua boca
No teu olhar
Talvez em teu coração
Que hoje sei é de pedra


Darei a moça linda que passa agora
A minha desconfiança
O fingimento do amor
Um gemido de mentira
Sentado a beira da cama
Nunca serei do senhor
Não nasci pra ser mucama
Num mundo de faz de conta
Aliança
Véu
Grinalda
Meu corpo atrás da porta
Gritando que tem vontade
E meu amor passeando
Não sei com quantas
Nem onde
Mas agora já é tarde

Darei a moça linda que passa
Receitas de pratos que fiz
Que nunca foram provados
De doces que amargaram na espera
De como conversar com as paredes
Em muitas noites vazias
Nunca ligar para a mamãe
Ela dirá aguente firme
Uma vítima como tu
E falará do teu pai
tal e qual o teu amor
pra não arranjar um amante
guardar o respeito por ti
que é o único que lhe resta
Ah,moça linda que passa!
Se soubesse!

Renildo Borges

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Retórica absoluta.


Na esquina do tempo
Já me dizia o vento
A vida não é uma reta
Tem descida e tem subida
Tem curvas belas de moças
Bilhetes de despedidas


Na esquina do tempo
Já me dizia a saudade
Amor não é algo que compra
E também não se encomenda
Chega sem hora marcada
Sem convite vai entrando
lhe aponta esse ou aquela
E fica pelos teus olhos olhando
mal me quer bem me quer

Na esquina do tempo
Já me dizia sabedoria
Sábio é quem fica calado
Palavras às vezes é combustível
Acende a ira desperta a morte
Nada se ganha ou se leva
Na força bruta ou na sorte

Na esquina do tempo
Já me dizia o medo
Uma coisa corriqueira
Que não é nenhum segredo
Você passa e eu vou ficando
Assombrando a presunção
Dos tolos homens feitos de pó
Que ao pó retornarão

Renildo Borges

Antes da escuridão.


Quando o dia ainda era flor
Só conhecia um amor
De mãe
De pai
De irmãos
E era tão feliz então


Quando o dia ficou verde
Veio a infância e a sede
De correr em campo aberto
Bola de gude
Pião
Meu papagaio no vento
E era o rei das histórias
Que contava a minha avó

O dia ficou de vez
Fiquei pensando em Inês
Também desejei Estela
Mas tive medo do pai dela
Optei por uma baiana
Que me ensinou abc
Não me pergunte de quê
Pelas noites do pontal

O dia ficou maduro
E eu perdido entre muros
cheiro de frutas e de moças
em meu nariz em minha boca
labirintos da paixão
cadê a minha razão
qualquer coisa por seus beijos
ansiedade
desejos.

Renildo Borges

A admirável conveniência humana.


Vou caminhando pelas ruas vazias
O mendigo com a mão estendida não existe
Assim como também não existem os pivetes
Com suas colas,crack e maconha
Não existem as prostitutas, os travestis...
Apenas as igrejas com suas estátuas frias,
caladas e sem vida, como eu, um homem morto
que os “amigos” chamam de bom


Vou caminhando pelas ruas vazias
Os velhos com suas bengalas desde as duas,
três,quatro horas da manhã nos postos de saúde,
com fome, aguardando a morte...
Não existem
Os traficantes licenciados pelo estado
Que vendem cigarros que matam 5,1 milhões de pessoas p/ano
Não existem
Não existe também o traficante de álcool que matam
3,3 milhões de pessoas p/ano

Vou caminhando pelas ruas vazias
A multidão que protestava a pouco
estão no estádio vendo um jogo que nada acrescenta
e os outros foram trabalhar pra pagar uma fantasia e desfilarem
“patéticos” no carnaval para gringo ver.
Não me odeiem ainda por favor, por que nem falei em dízimo
e falsos pastores,por que eles não existem

Vou caminhando pelas ruas vazias
de um país laico, mas que tem padroeira,
quando o papa chega há um aparato do estado a seu serviço
gratuitamente e é dona de quase todos os cemitérios do pais,
de todas as santa casas e cobram caro por seus serviços
Agora podem me odiar,se quiserem,
por que não preciso de religião e nem de suas falcatruas
eu preciso apenas de Deus e de obedecer os seus mandamentos.
Obs.
Por favor podem me explicar o que é ser um país laico ?

Renildo Borges