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terça-feira, 3 de outubro de 2017

Na vila do bem querer


Quando chegar não sei quando
Minha esperança já morta
Bem no batente da porta
Que dá pra desilusão
Não mão um punhado apertado
De tantos sonhos sonhados
Derramando pelo tempo


Não se ria de minha rosa
Plantada dentro de mim
Diga palavras amenas
Que regue a flor do querer
Que espante a tristeza
Que sentada do meu lado
me diz que não pode ir

Quando chegar não sei quando
que seja pela manhã
quando o sol aponta o ponto
na vila do bem querer
revelando os sentidos
teu cheiro
tua mão na minha
teu olhar mostrando além
teu gosto na minha boca
sussurra no meu ouvido
faças tu por merecer
possua os sete sentidos.


Renildo Borges

Pelas ruas de Mumbuca


Moça bonita eu te disse
Amor não é de encomenda
E não se encontra a venda
Pelas esquinas do mundo
Não sabemos e onde vem
Qual mês, que hora ou que dia
se chama Pedro ou Maria
se vem num cavalo branco
ou se montado no vento


Me pediu! Isso é verdade
Naquele dia à tarde
Na festa de Santo Antônio
fita branca de três palmos
você em frente do santo
não sei o que você pediu
Mas amor por caridade
Como se fosse por pena
Dessa tão bela morena
Sinto mas não posso dar

Moça bonita eu te disse
Que amor não é palpite
Sei que você ainda insiste
E olho teus olhos tristes
cortando-me o coração
me olhando na janela
quando passo em tua rua

Moça bonita eu te juro
se você continuar…
com esse jeito dengoso
de quando passa me olhar
Ah moça! Nem quero saber
Que rumo isso vai dar
Posso ficar sem vergonha
Me aproveitar de você
Sentir de perto o teu cheiro
Fazer o que bem quiser

Moça bonita e agora?
Fizemos o que não podia
Não quero você falada
Pelas ruas de Mumbuca
Vai que fica embuchada?
Credo em cruz !
Ave Maria !
Teu pai é cabra valente
Se desconfiar da gente
É melhor nós ...Bem!
Tu vai lá no padre
que eu vou no cartório.


Renildo Borges

Uns versos pra ser feliz



No caminho pra quem sabe
me pergunta o passarinho
Pra onde vai?
Respondo vou por aí…
Não tenho mais irmãos ou amigos
Perdi todos para o perigo
de viver
de estar vivo
esperando apenas o dia ou a noite
quando o invisível açoite
retirará do meu corpo a alma
repleta de sonhos não vividos
de amores que desejei
do beijo que não senti o gosto
de esperanças em alvoroço
mortas ao final de cada dia


Ah, e na minha mente
inventiva … insistente
delira terrivelmente
o rascunho do corpo dela
desculpe as outras lindas meninas
mas tenho queda por morenas
com a cintura bem fina
os seios médios rosados
os olhos negros ou castanhos
prestando atenção em mim
mas sem notar que eu sou grande
um tanto desengonçado
mas querendo um amor ao lado
pra viver e ser feliz

não tenho apartamento
nem sei quanto vale o jumento
uma tapera ,uma cabaça,o pilão,
três rapaduras,
meu coração sonhador
que herdei do meu avô
nordestino até na alma
debaixo da lua branca
pousada na minha dor
com saudade de quem foi.

Renildo Borges

Vendaval


Quando ela chegou era de manhã
Não disse bom dia
nem se eu queria
E foi logo entrando
Destampou meu coração
meteu a mão apalpou
Ora de modo bruto
que me provocava soluços
Ora de um modo dissimulado
atrás de algo passado
Mas nunca de um modo eu sou tua
Mesmo se em meus braços estivesse nua


Sabia de minha carência
De minhas noites vazias
que se estendia pelo dia
Do fogo que ardia em mim
Da minha cega paixão
E ela me tendo nas mãos
Me fez de gato e sapato
Usou ,abusou e gozou

E quando se foi
numa quarta feira de cinzas
Me disse com voz ferina
Você é muito besta!
Tem coisas que a gente esconde.

Renildo Borges

Entre a cruz e a espada


Prenderam seu Gabriel
homem honesto,fiel
aos mandamentos de Deus
só por que se sucedeu
que teu menino mais novo
andando lá no meio do povo 

Uma gentinha miúda
com titica na cabeça
e se fazendo de besta


Diziam que a palmada
nunca devia ser dada
que estava condenada
Por uma assembleia indecente
duvido se era de gente
que acreditava em Deus
Que um dia escreveu
”Corija seu filho com vara pra não chorar sobre seu túmulo depois”

Seu Gabriel não devia
nenhum centavo a ninguém
Se não tivesse vintém
que os seus braços ganhava
Por certo é que ficava
com fome mas com a vergonha
Bem estampada na cara
pois um cabra do sertão
Não perde a vergonha não

E o juiz perguntou: Você bateu no seu filho?
Seu Gabriel respondeu: Bati e bato de novo
Se ele andar no meio de um povo
viciado em pecado
Contadores de mentira
que não respeita os mais velhos
Que não tem papa na língua
e sai falando besteira
Ofendendo a família
e a perfeita harmonia
de andar na lei de Deus.

E foram deliberá entender o beabá
Do sertão do Ceará
frente aquela lei sem jeito
Desmanchando o que é perfeito
E quando o juiz voltou
olhando meio acanhado
Para seu pai ali presente
com aquele olhar lhe dizendo:
Veja lá o que tá fazendo !
Se não lhe dou uns tabefes
E veio o veredito
sobre o dito por não dito
Mas será o Benedito?
Com medo de levar um pito
o juiz argumentou que vale mais obedecer a Deus que aos homens
e por isso não podia manter preso um homem
que desobedecia homens ao invés de Deus.

Renildo Borges