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domingo, 29 de abril de 2018

Do seu rosnado eu tiro rosas


Me ofereceram dinheiro
pelo meu riso
pra alegrar suas vidas vazias
ri descaradamente
escancaradamente
como um demente
pra essa gente
impertinente
fingindo-se de contente

ficaram impressionados
(Não sabiam do que éramos capazes)
e quiseram rir
mas não podiam
faltou "know-how"
"savoir-faire"
erudição de quem "já é"
montado em cavalo do cão
lá no sertão de manhãzinha
arribaçã
arribação
pro mundo que rosna
ódio e rosas
me oferceram dinheiro
pra que os fizessem rir
me recusei
fiz cara feia
pobre só ri
por que conhece
todos caminhos
e as tempestades
todas as mentiras
e as verdades
o trem lotado
faltou o leite
uma garapa
pra aguentar...
quero casar
quanto é o cartório?
não é esposa
é companheira
quem tá comigo
a vida inteira
lhe disse a dona
da previdência
com arrogância
superioridade
como se fosse
alguma beldade
fiquei com pena
de minha morena
olhos no chão
e no cartão só
(companheira)
esposa não
quando me disse
fiquei com raiva
vendi meu riso
pra me casar
eles com tudo
e nós sem nada
compram sorrisos
compram prazer
o que eu faço
que vou dizer
vocês roubaram a alegria
a esperança
a euforia
a paciência
no preamar
como que eu posso te alegrar?
se é do seu rosnado que eu tiro rosas.

Renildo Borges

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