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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

O Senhor das rosas


Me chamaram de senhor
Pelas bodegas da vida
Aquela gente sofrida
Comprando a falsa alegria
Num copo de agonia
No balcão da ilusão


Senhor? Ah! Eu não posso ser
Eu nada tenho nas mãos
Aprume a tua visão
Repare naquela rosa
Por entre as árvores frondosas
Senhor é quem a faz crescer
e dá também o perfume

Me chamaram de senhor
No escuro da madrugada
Aquele povo sem nada
Na mão a impalpável fé
Vendida por dez por cento
Do teu salário miséria
Por uma vaga no inferno
pra aquele que te cobrou
Por que no céu é de graça

Senhor? Ah! Eu não posso ser
Não sei entrar em tua mente
E plantar lá a semente
Pra que continue inocente
Sem conhecer esse lado
Da cobiça, sexo e vinho
Que erguem pelos caminhos
Onde pousam os passarinhos
Desavisados das tramas
Para não voar jamais

Me chamaram de senhor
Numa sexta feira negra
Manchando a santa inventada
Na procissão da cobiça
Me estendendo a mão aflita
Por inúteis cacarecos
Me fazendo de boneco
Num circo mambembe e caro
Cujo dono salafrário
Eu juro nem sei quem é

Senhor? Ah! Eu não posso ser
Por que seu fosse senhor
Montaria em minha ira
e mataria o egoísmo
antes dele ser menino
antes dele ser adulto
pra não corromper o justo
transformando em falso astuto
que compra a morte a prestação.
Diga não!


Renildo Borges

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