Translate

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Almanaque da Caatinga


Não acreditei num anjo de araque
de tanga e de fraque
que vai pra onde vou
talvez nem viesse
pra essa caatinga
que tem marimbondo
de chapéu,três por quatro...
de Janeiro a Janeiro
Mas não tem mandinga
e nem macumbeiro


Farofa e cachaça
galinha ou um bode
talvez umas frutas
na encruzilhada
pra uma alma penada
assim como eu
não faria mal
mesmo sem ter sal
que o diabo não gosta
de água e nem sede

Só fica na rede
vestido num terno
no centro do inferno
tramando armadilhas
pois nem tem mulher
aquele gaiato
que tem pé de pato
e um chifre esquisito
me disse Agapito
que foi de mulher

Não acreditei no tal
tranca rua
com a cara pra lua
só por que montava
o cavalo do cão
sela de pelúcia
cheio de astúcias
querendo assombrar
um cabra da peste
que vem do nordeste
montado na coragem
no pelo sem sela
com a febre amarela
do sol do sertão
pra essas paragens

Deixe de bobagens
que servo do cão
é anjo caído
se mata a grito
dando aleluia
orando um salmo
e meu olho calmo
te vendo cair
te vendo gritar
te vendo pedir
te vendo tremer
e temer
O esconderijo do Altíssimo
também é caatinga
também é cantiga
também é ter fé
me falou o anjo
agora tão santo
vestido num manto
comendo rapadura
com torresmo
na feira dos paraíbas
eu que diga!


Renildo Borges

Nenhum comentário:

Postar um comentário