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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

O tempo falará por mim

Quando eu era menino
ouvia aqueles homens
Com seus dedos em riste
Com suas vozes altas
Com seus ares de quem podia
Dar ordem ao meu pai
de forma brusca
Que sempre obedecia
Raramente questionava
Dava vontade de perguntar
-Porque o senhor permite isso?
Mas eu assim como ele
também não tinha coragem
e assim seguia a vida na mesma ladainha
faça isso ,faça aquilo...



um dia lá pelos catorze anos
com a paciência esgotada
criei coragem e perguntei
meus irmãos se afastaram depressa
quando nosso pai nos encarou
pensei em correr também
mas fiquei ali preso
querendo sair e sem poder
as pernas tremendo
a boca seca
aquele bolo na boca do estômago
o medo da palmatória

meu pai percebeu a minha dificuldade
e desfez aquela cara medonha que nos assombrou
e se aproximou devagar
chamou meus irmãos e nos disse
da dificuldade de arrumar trabalho
por não ter estudo
e que precisava do dinheiro para nos sustentar
e então entendemos que aquilo era por nós
mas mesmo assim eu disse a mim mesmo
que não ia querer ter filhos e nem mulher
não ficaria preso aquela condição


e lá fui eu pelo mundo com a minha cara feia
e meus dois metros de altura
metendo a mão na cara
dos que achavam que eram
dos que queria me humilhar
dos que não tinham respeito
dos que queriam mandar


mas aos 29 anos
Ela apareceu
Com sua negra cabeleira
Com os seus olhos de vem comigo
como seu andar gingado
Ah,meu Deus! Eu tô lascado!
Com seu cheiro de amor...
Dia desses nosso filho mais velho perguntou:
-Pai ! Hoje não é domingo?
Olhei pro meu pai que agora mora conosco
Abaixei a cabeça e fui trabalhar
Por que sei que o tempo falará por mim


Renildo Borges

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