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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Um All Star ou Coca Cola e meia garrafa de tequila


Você foi embora por que eu não disse
Eu te amo?
Sabe! Pensei muito em dizer isso diversas vezes
Quando você ficava calada ao meu lado
Com sua mão suave a deslizar pelo meu rosto
ou quando você trazia um pedaço
de alguma coisa mordida
por que só tinha aquela
e você não queria comer sozinha
E eu desembrulhava aqueles papeis
"que sabe lá Deus onde você achou"
De cores vibrantes como os seus belos olhos
E comia por que naquela coisa qualquer mordida
também tinha o gosto da sua boca


Você foi embora
Por que eu preferia ficar em casa com você
Ao invés de sair por aí enfrentando filas de cinemas,
filas pra comprar uma pizza , um sorvete e o engarrafamento
que devorava as nossas horas
enquanto eu preferia ficar “só “com você

E as suas amigas?
Você me apresentava a elas de um jeito muito especial
Eu percebia em teus olhos a satisfação , o prazer de
Dizer: -Esse é meu namorado!
Você também fuzilava com o teu olhar aquelas que você
de longe suspeitasse ter algum interesse em mim
mas com uma elegância que nenhum traço do seu rosto se modificava
Você dizia que eu ficaria bem de rosa , mas nunca comprou
nenhuma roupa rosa pra mim , por que sabia que eu não usaria
Eu queria que você descesse ,ao menos uma vez , quando saíssemos,
daqueles teu saltos altos e dessa tua elegância ofuscante
Que apaga a lucidez de alguns homens, que juro, tinha vontade de espancar ,
só pela ousadia de ter te olhado
e vestisse uma jeans surrada ,uma camiseta qualquer e um tênis all star
Mas nunca te pedi isso e você nem sabe

Sabe! Por todas essas coisas e outras que eu não disse aqui , por que é só nossa
Pensei que hão havia necessidade de dizermos (eu te amo)
Por isso nunca pedi que você dissesse
Um dia ela me ligou e disse: -Você transformou nosso amor num poema
publicou na sua página mas ainda não disse (Eu te amo)
Respondi: - Vem aqui que que eu te direi
Sabe! Ela veio mesmo! Trouxe uma garrafa de tequila pelo meio
Se desculpou de sua deselegância com sua jeans rasgada no joelho,da
sua camiseta com a legenda “Love me tender” e seu tênis da Coca Cola
pra fingir que não deu bola
Mas tenho medo de dizer (eu te amo) e ela ir embora
com essa beleza tão sua,mesmo ela tendo descido dos saltos.


Renildo Borges

Nos braços de Açucena


E lá vou eu Açucena
A vida é como um poema
Vou guardando na lembrança
A moça na estação
Um sorriso é o que basta
Para comigo viajar
Dentro do meu pensamento
Dentro do meu coração


E lá vou eu Açucena
Na estrofe do poema
Faço um amigo barato
Um que vale diamante
Conto os abraços
E os sorrisos
Jogo fora qualquer dor
Antes de chegar meio dia
Compro um prato de comida
Obrigado quem me guia

E lá vou eu Açucena
Por que a manhã é branca
E toda tarde morena
E a negra chega de noite
Me embala pra dormir
Manda que fiquem em silêncio
Pra ouvir o seu cantar
E é tão gostoso o seu canto
Acho que vem lá do mar

E lá eu Açucena
Numa viagem sem volta
Vou montado na coragem
Tenho horror a covardia
Pois tudo que cai levanta
já dizia a minha tia
até a fruta madura
é árvore em outro dia.


Renildo Borges

Cabresto


Eu vou com você
Pra você não ir sozinha
Com sua bolsa de mágoas
Com sua mala de dor
E cacos de alguma coisa
Que acreditava ser amor
Quem sabe precisará
De um riso mesmo forçado
De um pão de esperança
Ainda que esteja mofado 


Eu vou com você
Por que colocaram um muro
E cercaram todo o amor
Que já estava maduro
E a ponte que levava
Para qualquer horizonte
Foi por eles derrubada
Deixaram o hocus pocus
O plim plim... abacadabra
E semeiam a ignorância
Um cabresto e mais nada

Eu vou com você
Por que também veio comigo
Quando a margem era caminho
Quando tudo então era pedra
Minhas cicatrizes sangrando
Mas você estava ao lado
No seu silêncio orando
Para um Deus que conhecias
Feito de esperança e fé
Que ainda insiste em manter
Eu e você de pé
Para derrubar os muros.


Renildo Borges

No Raso da Catarina


O tempo pintando meus cabelos
De branco
Num banco de areia
Na beira do São Francisco
Me falou que tenho sorte
Muitos morrem antes dos trinta
E a sereia que anseia
Me mirava lá na areia
Me levar pra profundeza
Lá pro seu reino de morte
Fez beiço de desgostosa
Com rumo daquela prosa


Perguntei quanto lhe devo
O tempo disse é de graça
Lhe chamei pra uma cachaça
Ele não quis dei pro santo
Que tava bem lá no canto
Proseando com o cheiro
Que vinha lá da cozinha
Da venda do seu Amaro

Quando enfim anoiteceu
Me disseram vá com Deus
respondi vocês também
Mas já era madrugada
E lá na encruzilhada
Um cabra fedendo a enxofre
Feio parecendo o cão
Me falou Deus foi com eles
E deixou você na mão

Eu falei tente a sorte
Seu filho de chocadeira
E rolamos na poeira
Tabefes pra todo lado
Quando ele quis correr
Eu segurei pelo rabo
E o capeta zangado
Por fim pediu o penico
Me falou que foi sereia
Que armou o reboliço
Dizendo que eu estava sozinho
E viu que estava enganado
E que armado de espada
Tinha setenta ao meu lado

A mulher me sacudiu...
Tu tá brigando com quem?
E então olhei pro lado
E já não vi mais ninguém
Contei pra ela o sonho
Ela disse “Creio em Deus Pai”
Isso é coisa do outro mundo
Do reino de satanás
É melhor você rezá
Pra num sonhá nunca mais.


Renildo Borges

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Matutando...


Me traz um retrós de linha
Me falou de manhãzinha
Quando eu vinha para feira
Sei que ela também queria
Mas calada não dizia
Uma água de rosas
Uma alfazema
Um metro e meio de chita
Essa cabocla bonita
Que mora em meu coração


Mas meu suor vale pouco
Não arrepare seu moço
Só dá pra comprar farinha
Um quilo de carne com osso
250 gramas de café
Rapadura pra adoçar
E se sobrar compro fumo
Pra mode fazer rapé
O resto tem lá na roça
Tu sabe como é que é

A cabocla de quem falo
Tinha muitos pretendentes
Mas como amor não escolhe
Ficou comigo somente
Sei que dia menos dia
Lá no chiqueiro a leitoada
No terreiro a pintaiada
Vão crescer e então eu vendo

Lá pelo mês de Dezembro
Trago pra ela um vestido
Água de cheiro num vidro
Uma tiara pro cabelo
Uma sandália rasteira
Trançadinha,bem bonita
Vou matutando na estrada
Tomara que chegue logo
Pra mim ganhar um sorriso
E um cheiro no cangote.


Renildo Borges

Contemplação


Dizem: A vida é passageira!
Ai meu Deus! Quanta besteira
A vida não é brincadeira
E o passageiro sou eu

Pagando um bilhete caro
Nesse estranho itinerário
Pra ir e não voltar mais


Não sei o fim da viagem
Quem virá até o fim
Faço preces e lamentos
Para o dono do dia
e do tempo
Que tem tudo anotado
O preço, o juro final
Quem desce na próxima estação
e os que seguem adiante

Pudesse se eu merecer
Ah ! Que bom se eu e ela
De mãos dadas e olhos fundos
De tanto olhar o mundo
Chegasse juntos ao final

O tempo comeu a beleza
E as curvas de sobremesa
Da minha musa infinita
Mas não tua voz macia
Que ainda me acaricia
Dizendo:-Vem meu amor
Ainda não acabou
Olhe lá a primavera
E aquela moça tão bela
É nossa neta na janela
Pedaços de mim e ti.


Renildo Borges

O Deus de toda a humanidade (Jeremias 32:27)


Quem é o viado da Tiradentes?
É meu irmão!
A prostituta indecente da Central...é minha irmã
Os travestis dos arcos da lapa...é meu irmão
O batedor de carteiras...é meu irmão
O PM que regula a lei...é meu irmão
O juiz que não cumpre a lei...é meu irmão
O velho frade franciscano...é meu irmão
O padre dominicano...é meu irmão
O pastor gordo de dízimo...é meu irmão
O que causa confusão...é meu irmão
O babalorixá do terreiro...é meu irmão
O pinguço no boteco...é meu irmão
O camelô vendendo cacarecos...é meu irmão
Todos os gays das paradas...é meu irmão


Não sei qual é seu pecado
Não sou eu Deus nem Diabo
Pra te julgar sem defesa
Lá fora a fogueira acesa
Dos covardes seculares...

O negrinho carvoeiro...é meu irmão
A mulher que é mal amada...é minha irmã
Os cornos das madrugadas...é meu irmão
Os viciados,os maconheiros...é meu irmão
O safado que pichou meu muro...é meu irmão
A moça que fez um aborto...é minha irmã
A moça virgem no altar...é minha irmã
O arrogante em Paris...é meu irmão
Quem me estende a mão...é meu irmão
Os que sonegam o pão...é meu irmão
Quem se mata as madrugadas...é meu irmão
Os que matam por dinheiro e desfilam em
Fevereiro...é meu irmão
O preto,o branco e o índio...é meu irmão
O mulato,o pardo,o cafuzo...é meu irmão
Os que mudaram de sexo...é meu irmão

Lembrem-se do livre arbítrio
Que instaurou o Altíssimo
no ato da formação
Mas sempre passa as altas horas
em noites frias de inverno
Alguém falando de inferno
E que Deus não é pai de toda humanidade.


Renildo Borges