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segunda-feira, 6 de agosto de 2018

No Raso da Catarina


O tempo pintando meus cabelos
De branco
Num banco de areia
Na beira do São Francisco
Me falou que tenho sorte
Muitos morrem antes dos trinta
E a sereia que anseia
Me mirava lá na areia
Me levar pra profundeza
Lá pro seu reino de morte
Fez beiço de desgostosa
Com rumo daquela prosa


Perguntei quanto lhe devo
O tempo disse é de graça
Lhe chamei pra uma cachaça
Ele não quis dei pro santo
Que tava bem lá no canto
Proseando com o cheiro
Que vinha lá da cozinha
Da venda do seu Amaro

Quando enfim anoiteceu
Me disseram vá com Deus
respondi vocês também
Mas já era madrugada
E lá na encruzilhada
Um cabra fedendo a enxofre
Feio parecendo o cão
Me falou Deus foi com eles
E deixou você na mão

Eu falei tente a sorte
Seu filho de chocadeira
E rolamos na poeira
Tabefes pra todo lado
Quando ele quis correr
Eu segurei pelo rabo
E o capeta zangado
Por fim pediu o penico
Me falou que foi sereia
Que armou o reboliço
Dizendo que eu estava sozinho
E viu que estava enganado
E que armado de espada
Tinha setenta ao meu lado

A mulher me sacudiu...
Tu tá brigando com quem?
E então olhei pro lado
E já não vi mais ninguém
Contei pra ela o sonho
Ela disse “Creio em Deus Pai”
Isso é coisa do outro mundo
Do reino de satanás
É melhor você rezá
Pra num sonhá nunca mais.


Renildo Borges

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