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sexta-feira, 27 de julho de 2018

Quatá - São Paulo 1968


Quando eu era menino
todos os medos que eu tinha
meu pai levava nos bolsos
e se algum deles fosse esquecido
por um descuido do meu cuidadoso pai
mamãe estava sempre por perto
e também meu cão de guarda
Duque era um cãozinho sem rabo
branquinho com três manchas pretas
Ai ,que dó!
Algum estabanado havia lhe cortado
não sei bem quem foi
mas era valente como ele só
Um dia defendendo o galinheiro
de um ouriço que gostava de comer ovos
ficou todo estropiado
Mamãe tirando-lhe os espinhos
espalhado pela cara dizia:
-Não precisava brigar! Era só latir que eu
dava umas boas vassouradas naquele ladrão de ovos!


Quando eu era menino
as onze horas mamãe me entregava
uma marmita muito bem embalada num
pano de prato com uns desenhos bonitos
que mamãe bordava
mas sempre escapava aquele cheiro
que me dava água na boca
mandava também uma garrafa de café
mas não era uma garrafa como as de agora
cheio disso ou daquilo,era uma garrafa de vidro
comum,com uma rolha de cortiça
pra não derramar
mandava também uma broa
ou um pedaço de bolo de milho
para a merenda das três horas
e lá ia eu pelos caminhos da roça
levando o almoço do meu pai

As vezes me demorava prestando
atenção numa borboleta bonita
num pássaro à cantar
em Duque,que as vezes
corria atrás de algum bicho
e se embrenhava pelo mato adentro
nos peixinhos do riacho
que corria bravamente
por entre as pedras e troncos
sempre em direção ao mar

Quando chegava finalmente ao meu destino
lá estava meu pai com seu chapéu de palha na cabeça
quebrando um pouco o sol a pino do meio dia
na sua labuta diária
em seu rosto queimado ,quase preto
seus olhos cansados me divisou
e seu sorriso se abriu
entreguei a ele o seu pão de cada dia
que alguém acima de nós nos permitia
e como era bonito o meu pai.


Renildo Borges

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