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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Um cara chato chamado tempo


Estava logo ali sentando
contando minhas gudes
Quando me chegou cara chamado tempo
me ofereceu barba e bigode
-Vê se pode!
Nem tenho cara de bode!


Depois me falou de uns pelos no sovaco
-Mas que saco!
-Também
Me irritei e perguntei pra que serve isso?
Masculinidade!
Ri pra valer e rolei pelo chão
-Tu és muito besta ou perdeu a visão.

Um dia estava eu ali soltando pipa
Chegou cara muito chato chamado tempo
E foi logo esticando minhas canelas
E engrossando meus braços
por que me achava fraco
Nessa não perguntei pra que servia
Por que meti a mão em Tonho de Luzia
Por que quando eu era franzino
sempre me batia

Um dia estava eu ouvindo causos
que os mais velhos conta
Quando chegou o tempo e me convidou
com uma cara esquisita...
Me mostrou uma coisa que nem vou falar
Disse que era bom que eu devia tentar
Larguei meu pião,minhas gudes e pipas
E fui namorar uma moça bonita.

Renildo Borges

sábado, 14 de janeiro de 2017

Muito além das consequências





Gostar de alguém não é uma coisa
que podemos escolher
como um par de sapatos,
uma roupa de frio
uma música
um bar
é algo além de nós
difícil de explicar

Que bom que é assim
pois não sabemos escolher
sempre nós erramos
até quando vamos comer
as vezes é saboroso
um bonito prato
as  vezes dá enjoo e vomitamos pedaços
palavras incompreensivas
restos de sonhos
tristeza e cansaço

Gostar de alguém não é algo que devemos estudar
Conselhos daqui
Censuras de lá
Uns dizem que é assim
Outros dizem que é assado
O tempo correndo e você
Ali pasmada !
-Como  não pude ver!
-Onde estava com a cabeça !
E chora sozinha com cara de besta.

Renido Borges

A Rosa e o espinho




Eu via ela nua,linda,sexy,quente...
Ela tinha os olhos limpos
Queria amor somente
Um abraço carinhoso
Uma palavra boa,uma flor
Tudo que se encaixasse
Dentro da palavra amor

Eu via as curvas dela
Lindas,perfeitas,sinuosas
Ela queria ouvir minha voz
Ver meu sorriso
Uns dedos de prosa

Eu via ela sussurrando...
Eu  e ela tudo se encaixando
Ela queria o amor que ela via
Entre seu pai e sua mãe
Como em sua família
respeito,lealdade,uma tradição
De branco no altar...
aliança na mão

Mas eu era imundo
vindo da ralé
sem pai e sem mãe
cresci no cabaré
-Amor segura ele só por uns instantes
Enquanto eu faço o mingau,o engrossante.

Renildo Borges

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Metade



Não vim te pedir pra ficar
Nem quero um último abraço
Mas quero a metade de mim
Que insiste em ficar nos seus braços


Não quero palavras bonitas
Pra enfeitar o que eu sei que perdi
Mas quero a voz que me falta
quando teus olhos ainda me fitas

Não digas outra vez nunca mais
por que tua voz e meus olhos nos traem
por que ainda nós somos metade
de uma estranha e triste verdade

Não vim te pedir outra vez
tantas vezes me trouxe cansaço
Mas devolvo a metade de ti
Que insiste em ficar em meus braços

Renildo Borges

Pai,Filho e Espírito Santo



Meu coração acredita
que as palavras benditas
que grita a sabedoria
pelas esquinas do dia
possa me trazer alento
nem que seja um momento

Notícias batem em minha cara
Teu filho fazendo isso...
Teu filho fazendo aquilo...
Cuidado! A MORTE VEM VINDO

Coração acelerado...
Um grito varando a noite
Tu existes ? Ou é mentira ?
ELE existe assim falou
cinco e meia da manhã
entre os raios da alvorada
anjos que estavam de guarda
-Fiquem em paz ! Teu filho vive.

Meu coração tá feliz!
o filho da rebeldia
era contra o que eu dizia
Também nada me trazia
apenas espera e agonia
sentou com a sabedoria
não sei se por horas ou dias

Estudou o livro santo
que encontrou pelos cantos
debaixo da superfície das
mais estranhas imundícies
que cometem os tolos homens
distorcendo a verdade
com sua estúpida vaidade

Meu coração Vai em paz
fostes fiel como sempre
e calou todas as serpentes
que riram sempre da gente
gente como eu e você
Que crê naquilo que não vê
que apesar de todas as pedras
duvidáveis das esquinas
Tu és Deus e ainda ensinas.

Renildo Borges

O dia em que você deseja desesperadamente que o trânsito esteja engarrafado e o táxi se atrase.


Preciso comprar uma flor,pra ela que é meu amor
Mas a preguiça me fala - Amanhã eu vou!
Preciso falar que ela é linda dentro daquele vestido florido
Mas qualquer porcaria que nem mesmo eu sei o que é
dentro da minha cabeça indefinida diz
-Ah! Ela sabe disso!
Preciso consertar o registro do chuveiro,
por óleo nas dobradiças da porta
pra que não fique rangendo sinistramente ,
quando ela às madrugadas vai ao banheiro.
Mas o jogo “call of duty” no pc diz
-Amanhã tu faz!
Preciso tocar teus cabelos,contemplar teus olhos lhe fazer
um carinho ,não carícia ,e dizer a ela
Quanto ela é importante para mim.
Mas a libido ou safadeza, sei lá qual é o nome dessa coisa ,me diz.
-Qual é ?
Olha as coxas dela,olha como ela está sexy!
Preciso saber agora como fazer ou o que falar pra ela ficar.
Por que ela já arrumou suas coisas,
tomou um banho e colocou um lindo vestido azul
e seus sapatos da mesma cor.
Está aguardando apenas o táxi.
Teus olhos parecem rir de mim,
do meu desespero, de uma forma bem serena ,
por que sabem que eu vou pedir pra ela ficar.
E um monte de coisas dentro de mim
Amor,paixão,desejo,dependência...
GRITAM :
-Ande logo,peça logo!


Renildo Borges

O que eu sinto por você acende a noite.


Saia da escuridão do teu quarto
teu amor não volta mais
Vem cá fora ver estrelas
Vem cá! Começar de novo...
Vem ver meu sorriso largo
e o brilho em meu olhar
O que eu sinto por você
acende a noite...


Vem cá fora vem me ver!
Não fui eu ,não fui eu
que o teu amor levou
nem moreno eu sou...
não deixe que o tempo derrame
o meu amor em gotas de vexame
pelos becos da rua solidão

Vem cá fora vem me ver!
já está findando a noite
e o vento sussurra em leve açoites
que numerosos lábios de frio metálico
me aguardam na rua da ilusão
mas eu nunca tive um beijo seu

Quem dera ,eu pudesse te tocar agora
Quem dera, eu pudesse te ver antes da aurora
Sentir o teu gosto em minha boca
Quem dera.

Renildo Borges

Sociedade anônima


A ilusão foi embora
por que lá fora escorria
pelas sarjetas verdades
pelas igrejas mentiras
pelos botecos amores
pelos cartórios utopias
por abraços que cobravam
às vaidades que serviam
e os sorrisos vendidos
pela imunda hipocrisia.


A ilusão foi embora
por que lá fora sorria
O surdo que ouvia bem
e o cego que sempre via
a esperança morrendo
e os gritos da agonia
pelos cantos ,desencantos...
na escura luz do dia.

A ilusão foi embora
por que em ninguém mais cabia
Os homens cheios de si...
Vazios de sabedoria.

Renildo Borges

Quatro ventos


Eu não tenho preço
não estou a venda
Também eu não sirvo
como oferenda
da tua vaidade
do teu faz de conta
do escuro rosário
de tristes lembranças...


Eu sou sal da terra
não palavras
aos ventos
tua ladainha...
não é meu lamento
Na Bíblia Sagrada
muito te estudei
tu és só bufão
e posas de rei

Sou filho da luz
conheço a verdade
a tua mentira não é caridade
de graça eu recebo
de graça eu dou
o pão ,oração,
carinho e amor.

Renildo Borges

Correndo dentro da noite


Correndo dentro da noite
A lembrança
Do teu rosto
Do teu corpo
Do teu cheiro
Do teu gosto


Correndo dentro da noite
Os fragmentos
Os momentos
Tão intensos
As promessas aos ventos
O arrependimento...

Correndo dentro da noite
As mãos vazias
As noites frias
Foi covardia
Você queria
Você podia
Ficar comigo.

Renildo Borges

Mãe Libé


Liberalina Sá Souto
Vai devagar pela estrada
Bença mãe libé!
Está velha mas não cansada
Bença mãe Libé!

Mãe Libé tem tantos filhos ...
Não de sangue
Mas de coração
Do parto
Das suas mãos.
Liberalina Sá Souto
Vai devagar pela estrada
O filho do carvoeiro...
Bença mãe Libé!
Um homem com uma espingarda
Bença mãe Libé!
A moça que vai casar
Bença mãe Libé!
O vaqueiro que vai aboiar
Bença mãe Libé!
Menino traz uma galinha
Bença mãe Libé!
Um outro traz a farinha
Bença mãe Libé!
Banana,bolo de tapioca,
camarão seco,
fruta do conde...
quer que bote onde?
Bença mãe Libé!
E assim ela leva a vida
Bença mãe Libé!
E assim ela é amada
Bença mãe Libé!
É noite,é madrugada...
Chama mãe Libé!
fulana tá embuchada
chama mãe Libé!
Nasceu ,já tá de resguardo
foi a mãe Libé!
Tem festa...tem temperada
Chama mãe Libé.

Renildo Borges

Desobediência


Me dizem: -Seja perfeito!
Me pergunto se há jeito
Por que
Lá fora neste instante ...agora
A fome sentou com um homem
Deve ter sido horrível o que ela disse
Por que o homem agora está triste.


Me dizem: -Seja feliz!
Me pergunto se há jeito
Por que lá fora neste instante...agora
O homem que semeou a semente
Delira e grita insistentemente
Onde está?
Onde está?
O pão está nas mãos de homens malditos
esbofeteia-lhe a notícia descaradamente
diante de meus olhos aflitos.

Me dizem:-Seja obediente!
Me pergunto se há jeito
Por que lá fora neste instante... agora
Bungaram a água que tinha
Não matei a sede minha
Os peixes morreram à tarde
Chamei todos de covardes...
na mão a arma ...coragem!
Mais vale a pena obedecer a Deus
que aos homens.

Renildo Borges

Tempo afora


Minha saudade saiu
porta afora
sem demora
sem vergonha
sem pudor
a procura do amor
se encontrou com uma moça bonita
que sorria
encantada
como as flores
pela estrada
era realmente uma moça bonita
por dentro e por fora
raramente vista
mas vestia um vestido de chita

Minha saudade saiu
porta afora
já sem pressa
com pudor
nos seus olhos
sem brilho e sem cor
preconceitos
não amor
Minha saudade saiu
porta afora
mas dentro de si
lavava o que via
com nojo das manchas
as marcas dos dias
que marcaram as moças
que foram enganadas
e até ultrajadas
no seu dia a dia
que seus olhos via
Minha saudade saiu
porta afora
era noite...escuridão
levava um desejo
em seu coração
queria dançar a sós
com as estrelas
longe e arrogantes
de brilho distante
longe do seu alcance
Minha saudade chegou
de madrugada
já cansada
de longa jornada
Trazia vergonha
mas nenhuma amada
Trazia sujeira
nos olhos e nas mãos
mas vazio estava
o seu coração.

Renildo Borges

Não há censura para a mente,nem para o coração.


Se censurar meu poema com tua mente pequena
Nós, ainda assim ,te acharemos um fraco
A prostituta forçada
O ladrão nas madrugadas
Meninos gritando fome
Aos pés da estátua estúpida, com teu nome
Que não nos impedirá de dizer
Que temos nojo de você

Se censurar meu poema com tua covardia
Com a soldadesca analfabeta
Que comem o resto da festa
Como cães abanando o rabo
Em sinal de obrigado
Comendo o lixo no beco
Nós,ainda assim, te acharemos um fraco
Nós, os negros,os índios,cafuzos,mulatos,alguns brancos desgarrados...
Nós, dos morros,dos quilombolas,das favelas,das taperas nordestinas,
das palafitas ribeirinhas,dos pampas falidos,das chapadas,dos cerrados,
das caatingas...
Ainda assim, te acharemos um covarde.

Renildo Borges

Tem o homem


Perguntei ao passarinho se era bom voar pelos céus
E cantar a tua liberdade...
Mas ele triste respondeu:
Tem o homem com sua espingarda,
Com sua arapuca,com seu alçapão,
Com seu veneno nos riachos...


Perguntei ao peixe dourado se era bom nadar pelos rios,
pelas lagoas,pelos mares...
Ele tristonho me respondeu;
Tem o homem com suas redes,tem anzóis,tem manzuás e jererés
E salve-se quem puder.

Perguntei ao macaco se era bom pular pelas árvores
Comer muitos frutos silvestres,sentir o vento na cara
Ele respondeu :Tá brincando!
Por aqui também tem o homem
Com suas setas de veneno, bordunas silenciosas
Se esgueirando pela floresta, eu sou o prêmio
A festa...

No final eles então me perguntaram:
E você ? É bom ser homem ? Poder ter domínio do fogo,água,terra e ar?
Baixei os olhos e respondi com vergonha.
Tem o homem!

Renildo Borges

A primeira vez que te perdi.



O primeiro dia sozinho, eu contemplei o caminho
No rosto a marca do tempo,no coração desalento...
A liberdade que eu queria gritando pelas horas do dia
Teu nome.
No segundo dia sozinho, um silêncio no relógio da parede
O tempo dizendo pra esquecer
Teu gosto guardado em minha boca
Teu cheiro fugindo entre os meus dedos
abandonando os lençóis...
A mentira em mim dizendo não
Mas meu corpo e todo o meu ser insistindo em gritar
Teu nome.
No terceiro dia sozinho
Procurei o cheiro do meio dia
Que só você fabricava no seu fogão
Escolhido a dedo com recomendação:
-Quero um com forno bem grande!
Mas o que vi foi fogo morto que gritava
Teu nome
No quarto dia não deu pra esperar
Tomei um banho pra desamassar a cara mal dormida
Botei o perfume que ela gosta mais
Enchi um copo de coragem pra engolir
o orgulho goela abaixo...
E encontrei ela no meio do caminho.

Renildo Borges

Imaginação


Vou correndo pro Oriente
Lá vem a boca da noite
Pra engolir o meu sonho
De ser cavaleiro andante...
E roubar uma donzela
De algum reino tirano
Que no tempo de eu criança
vovó Ana me contava...


Vou correndo pro Oriente
montado nas asas do pensamento
que é mais rápido que a boca da noite
que vem montada no vento
levo uma espada de pau
que de cabo de vassoura
meu mano mais velho fez
meu emborná,meu bodoque,
minha galinha pedrês

vou correndo pro Oriente
Oxente ! Rosinha também
Que da casa de farinha
Trouxe histórias cabeludas
De uma mula sem cabeça,
Nego dàgua e boitatá

Vou me embora pro Oriente
De peito nu...tempestade
Sou o príncipe valoroso
Do reino libertinagem
Menino ! Saia da chuva
Deixe de sonhar bobagem
Vou pegar logo o chinelo
Pra tu sair da friagem.


Renildo Borges

Canção


Um vento de alegria
Numa tarde morena
Mariana
Rute
Luísa
e Helena

O que foi menino?
Qual foi o problema?
Mariana
Rute
Luísa
e Helena
Cadê teu violão?
Cadê o teu poema?
Mariana
Rute
Luísa
e Helena
Uma tinha olhos verdes
As outras três
eram bem morenas
Mariana
Rute
Luísa
e Helena
Beba logo o chá
Deixa de dilema
Mariana
Rute
Luísa
e Helena
Hoje o que nos resta
é saudades apenas
Mariana
Rute
Luísa
e Helena.

Renildo Borges

Pindorama



Caminho pelas noites nas ruas desertas
Limpo é a madrugada sem os homens,
Sem a imundície das suas porções diárias
Vomitadas por todos os meios para me coagir.
Na paisagem imunda que criou o homem
A mentira ainda exala o teu cheiro de morte
Mas sei que quem conhece a verdade
Tem também o perfume da sabedoria
Apesar dos malditos gritos da mentira
tentar calar a verdade
meus ouvidos ainda ouvem :
“O que está em ti é maior do que está no mundo”
Grita o valente e ousado homem que na esquina sozinho,
fala com sabedoria.

Caminho pelas noites nas ruas desertas
vestido da fé pra me proteger
um calor estranho me invade agora
mas não é humano
por que a muito o amor esfriou
e assim vou passando por que o tempo fica
e levo uma verdade que não passará.
A liberdade ao longe me acena,
a límpida luz rasga a escuridão
da noite fria e das ruas desertas
e sinto a festa em meu coração.
Caminho pelas noites nas ruas desertas
Longe dos risos sujos que me causam dor
Tudo é permitido nessa suja festa
Mas a verdade alerta
que não me convém.

Renildo Borges