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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

João “Ninguém”


João ninguém fazia carreto
rachava lenha
plantava roçado
carpia , colhia
e vendia
João ninguém
capava porcos
montava em burro brabo
tirava leite
fazia esteira de taboa
fazia caçuás
Mas o prefeito
e o delegado
continuava a chamá-lo
de João ninguém


Um dia de manhã cedo
o encontrei na estrada que ia para Bolandeira
e o cumprimentei
Bom dia seu João
ele parou,se virou
meteu a mão nos bolsos
e me deu um punhado de caramelos
e se foi
parecia muito feliz
por certo ia consertar uma cerca
aprumar um batente de porta
carpir um quintal ou algo parecido


Um dia João Ninguém
desapareceu sem deixar rastros
não entendi
Eu e os meninos cogitamos
as interpretações mais cabeludas possíveis
para explicar o sumiço de João
uma delas era que o delegado encontrou
João rindo com sua mulher escandalosamente
e não gostou,por isso deu um sumiço em João


Apesar daquela pecha
acrescentado ao seu nome
João ninguém vivia bem
as vezes eu e os outros meninos
andando pelos quintais
apanhando frutas
ouvíamos quase sempre ele gargalhando
as vezes com a mulher do prefeito
as vezes com a mulher do delegado
um dia nós reparando bem
vimos nos filhos do delegado e do prefeito na escola
aquele sorriso e aquele jeito de olhar
aquelas feições de João ninguém
tão conhecida de nós meninos
olhamos uns para os outros e rimos satisfeitos
sabíamos agora porque João ninguém tinha desaparecido.



Renildo Borges

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