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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

“Casa grande e senzala”

Ô de casa! Quem que chama?
 Sou eu a mesma mucama
Apesar da alforria
O que ganho nem paga o dia
Cozer no teu microondas
Passar com ferro a vapor
Lavar na máquina esquisita
Que a sinhá programou

Ô de casa! Quem que chama?
Sou a mesma mucama
Negra , cafuza, mulata...
 Não importa muita a raça
Perdi o trem do progresso
Que vinha de Bonsucesso

Ô de casa! Quem que chama?
Sou a mesma mucama
Estou ligando a cobrar
Peço pra não descontar
Não tenho décimo terceiro salário
Nem férias ,nem crediário...
Apesar da alforria

Ô de casa!
Quem que chama?
Sou eu a mesma mucama
Me barraram no metrô
Tudo por que meu “sinhô”
Sem ter senha ou login
Um moço disse pra mim
-Tu não está no sistema
Que Brasília fez de esquema
Pra Afro-não-sei de quê
E brasileiro não ser.

Renildo Borges

sábado, 15 de agosto de 2015

“Amanhã não é tão tarde”

Amanhã não é tão tarde!
Se você voltar do passado...
Se você derrubar o muro circular
Das lágrimas de tuas noites...
Amanhã não é tão tarde!
Só o cozinhar dos teus medos
Ferve a panela dos teus sonhos invisíveis...
 Eu sim! Sou sua realidade presente...
Fugindo do teu passado
Amanhã não é tão tarde!
Os ventos de agora...
Trás o mesmo perfume
Das primaveras passadas
Só você acredita que eu era diferente
Enquanto os pássaros cantam um novo amanhecer.

Renildo Borges

“Artigo coloquial”

Sou artigo nordestino Portanto... indefinido
Adjetivos são tantos
Substantivos são raros
Se sirvo diz o analítico
-muito bom!
Se não ,diz o sintético
-Chatíssimo!
Quero apenas concordância
Advérbio de igualdade
Na conjunção atual
Quero proporcionalidade
Fugir do determinante
Que dobra sempre verdade
Sou morfema nordestino
Às vezes sou radical
Com dúvidas de português
Por que ?
Porque ?
Os porquês...
Sou ambíguo quando quero
Às vezes cuspo no prato
Sem ponto de interrogação
Pois eu sei quem paga o pato
Nem vem com demagogia
Jamais direi que a coisa tá preta
E nem que o infame é humor negro
 Conduza seu próprio burro
E não se faça de besta
Sou nível coloquial
Mas racismo embutido enche o saco.

Renildo Borges

“Antes do amanhecer”

Talvez eu tenha um tempo
Antes do amanhecer
Pra colher sonhos,magias
Pra meu filho adormecer
Talvez eu traga do sonho
Antes do amanhecer
A solução de gramática
Que está no seu dever
Talvez eu tenha saudades
Antes do amanhecer
Durma pertinho de mim
Pra gente não se perder
Talvez eu tenha a coragem
Antes do amanhecer
Fingir que não ouvi as queixas
Que tua mãe veio fazer
Talvez eu vença o cansaço
Antes do amanhecer
E ache a palavra certa
Somente pra te dizer
Que não há papai Noel
Pois a vida é um bordel
Ore pra papai do céu
Pra ele te proteger.

Renildo Borges

“O apanhador de sonhos”

Apanhei pra mim teu sorriso
Estava solto no vento
Não tinha endereço certo
Bailava apenas no tempo
Com ele veio teu olhar
Profundo e sonhador
Teu belo corpo moreno...
Que me falava de amor
Guardei pra mim teu sorriso
Que de ti sempre fugia
Em manhãs de tempestades
Em noites de agonia
Para devolver-te, quando
Houvesse em ti a certeza
Que não roubei , me foi dado
Teu sorriso , tua beleza.

Renildo Borges

“O Retirante”

Tenho que ir...
Mas eu queria ficar
O vento retém no tempo
A dor que já vai chegar...
Tenho que ir...
Mas eu queria ficar
Um sonho dentro de mim
Semeia à luz do luar
Tenho que ir...
Mas eu queria ficar
Pitoco late tristonho
Olhando o vazio que há
Tenho que ir...
Mas eu queria ficar
No leito seco do rio
Há lágrimas do meu olhar
 Tenho que ir...
Mas eu queria ficar
Não tenho o viço das flores
Nem as plantas do lugar
Tive que vir...
Mas eu queria voltar
O vazio me abraça triste
Distante do meu lugar.

Renildo Borges

“Harmonia”

Quando a mentira passar
Vestida de falsidade
Com sua boca enganosa
Anunciando a vaidade
Ego , primeiro lugar...
E outras imbecilidades
É bom que a questione...
Não cometas atrocidades!
Quando a verdade passar
Vestida de absoluta
Apontando o dedo em riste
Sem diálogo , sem palpites
Com sua memória curta
Que livre arbítrio não existe
É bom que a questione...
Não cometas tais tolices!
Quando o sorriso passar
Vestido de alegria
E caminhar a teu lado
Mostrando a sabedoria
Que divisa o que é trevas
Da mais clara luz do dia
Dissiparás em tu , névoas...
E entrarás em harmonia.


Renildo Borges

“A terceira onda”

A primeira era rosa que ainda em botão
Se abriu numa noite em pleno verão
Sobre areias desertas me fez prometer
Que eu seria só dela enquanto viver
A segunda era lótus veio do Maranhão
Trazia a mandinga nos seios ,nas coxas
Um visgo que gruda nos olhos e na boca
Gemia sussurros de enlouquecer...
A terceira discreta nunca disse não
Trazia um Deus dentro do coração
Orava e orava pra nunca perder
O amor que a fez simplesmente viver
A primeira um dia num encontro marcado
Me disse com olhos ainda molhados
Agora entendo o que tu querias
Não era somente a febre de um dia
A segunda achou-me pela internet
Mandou- me palavras com cheiro silvestre
Confessou-me que as vezes a si perguntava
O que havia em mim que ainda a encantava...
Queria me ver,pois ainda me amava
A terceira ,uma noite nos olhos me olhando
Doce,calmamente ela foi me falando
Te amo e te amei em todos os momentos
De forte ventania ou de calmos ventos
Não quebre o elo,não traga o tormento
Da fugacidade perdida no tempo.

Renildo Borges

Quando eu me perco

Eu já quis te contar do meu dia...
Mas estavas tão ocupada contando o teu
Com um brilho cristalino no olhar...
e uma alegria que contagiava
Então calei minha alma
ferida,sozinha...que ansiava
Também meu coração e todo o sonho meu
Por que tua história era tão bela
Assim como tu
como tua boca
como teu sorriso
como esse olhar teu...
que não me arrisquei
falar do escuro... do ódio
e do breu
dos becos do mundo
de onde vinha eu..

Renildo Borges

Soturno

O novo é atraente...
Eu sei!
Como uma rosa que se abre pela primeira vez...
Exalando seu perfume à sua volta
Com suas pétalas macias
onde pousam as borboletas...e os poemas
que escreves...
que escreves...
que escreves...
É impossível ignorá-la...
Por isso...
Leve teus versos para além de mim
Além das noites em que não durmo
Além das lágrimas que percorrem
um sulco marcado em meu rosto.
Outrora...um dia estive  em teus braços
O novo ….ah !Amanhã não será mais
Então diga-me... o que fará com tua rosa?
Quando o tempo roubar teu perfume
e um vento soturno anunciar
de légua em légua
em letras rubras de morte...
o velho.

Renildo Borges

Vazio

Dias e dias me equilibrando
nas manhãs vazias ao meu redor
Atiro palavras aos ventos
que carregam as flores mortas...
Suavemente
Ainda guardo comigo teu olhar
que roubei numa madrugada distante!
Um galo cantou...
e já é madrugada !
Sei que ainda pensa
sobre o beijo roubado
e o gosto de nós dois...
Um poeta ainda espera
a última voz de um amor
quase morto.

Renildo Borges

Não me olhe assim

Não me olhe assim...
você mesmo me vestiu no escuro
E toda chama que havia em mim
Agora é cinzas...
Me ensinou a usar disfarces
como um alegre palhaço
que faz rir a multidão
Não reclame por não saber
quem sou eu agora
Por que você não gostava
do que eu era
muito emotivo...
muito presente...
com minhas rosas piegas
e aqueles bombons
ah! aqueles bombons...
você os olhava com desprezo
Sabe... tenho mil facetas agora
posso fingir que as coisas
que me diz não dói
que não te desejo
quando olho disfarçadamente um
pedaço do teu corpo a mostra
que não morro de ciúmes quando alguém te olha
com desejo
Sabe...Posso até fingir que não te amo
e que agora não queria estar nos teus braços
Não me olhe assim...Você me vestiu.

Renildo Borges

Agora ainda é silêncio

Eu venho das cinzas da tarde...
onde meu canto se perdeu
entre a fumaça da pólvora e
o rastilho de ódio que acendeu a morte!
Agora é só silêncio...
Amigos usam minhas palavras
que não foram rasgadas pelo ódio
para gritarem por mim...
que preciso viver para um outro amanhecer
para viver o meu sonho!
Agora ainda é silêncio...
Distante... uma moça bonita
remenda com uma linha de esperança
o que trazes consigo no peito
os retalhos de um amor solto
num vento que fala de sonhos...
de amores e de vida!
Agora ainda é silêncio...
Oh! Por que não gritas para calar teu choro...
amiga minha...
que me procuras desesperadamente
por entre as cinzas da tarde de escuridão e dor
está escuro mas eu te amo!
Agora ainda é silêncio.

Renildo Borges

Me leva

Se eu for o que tu sonhas...
Se eu for a tua saudade!
Me leve
Por entre as noites em teus sonhos
Pela brisa em teus cabelos
Me sinta...
Não minta
Me pegue
Me leve
Me ame

Renildo Borges

“O preço”

A tarde corre apressada...
Homens no campo à colher
Pedaços do amanhã
Pra si...
Pra mim...
Pra você...
Pagou o preço da luz!
Fala o oleiro ao vento
-Toque canções para ele
Leve perfume de flores
Pra que seu adormecer
Seja tranquilo sem dores!
A tarde corre apressada...
Homens no mar à pescar
Pedaços do amanhã
Pra si...
Pra mim...
Pra você...
Pra vida continuar
Pagou o preço do barro!
Fala o oleiro ao vento
-Aplaine as ondas do mar
Não lhe crie contratempos...
Ao retorno dele a seu lar
Para que ajoelhe e agradeça
Antes da noite chegar.
A noite chega apressada...
O oleiro aguarda que eles o agradeçam
Mesmo vendo além da escuridão
Aqueles rostos tristes de olhares estarrecidos
A contemplar o resto que sobrou
Depois dos impostos sobre o pão,o fruto e o peixe!
O vento continua a soprar,mas poucos ouvem a tua voz.

Renildo Borges

Hino Racional

Levante do berço esplêndido!
Oh! Gigante adormecido!
Queimaram teus lindos campos
Que antes eram floridos
Teus bosques ,não tem mais vida!
Tua fauna está perdida
Metade do amazonas
Tem mais gringos que formigas
Poluíram os teus rios...
Sumiram com as margens plácidas
Em busca do teu florão
Mercúrio... em águas flácidas
Levaram tua clava forte
E o penhor da igualdade
Teu norte é pulmão do mundo
E já não tem liberdade
Levante do berço esplêndido
Oh ! Gigante adormecido!

Renildo Borges

“A Verdade”

A verdade são três moças que passam pela vida
Os que as contemplam , fazem suas escolhas.
Um dos que as contemplam acha a da esquerda mais bela
Um outro ,discorda do primeiro e diz que é a da direita
Um terceiro ,já discorda de ambos e diz que é a do meio
Então começam a discutir altura,peso,cor dos olhos,
o vestido,o sapato e os acessórios.
O terceiro diz que tudo não passa de besteira...
e , mesmo que a do meio estivesse nua,
continuaria a ser a mais bela
o segundo diz que a da esquerda
usa uma roupa mais sóbria
e que isso atiça sua curiosidade sobre as suas formas
e que esse negócio de ficar nua é coisa de degenerado...
o segundo diz que tudo que os outros dois falaram é tudo apelação
e que continua a achar a da direita bela por haver nela traços familiares...
E não chegam a nenhum consenso , por que cada um via da sua forma,
com seu olhar muito singular.
E os anos foram passando e eles já velhos ,
continuavam a discutir... Quem era a mais bela?
O que eles não conseguiam enxergar é,que não havia
uma verdade absoluta nisso, por não haver entre eles, a razão...
mas sim uma verdade relativa, baseado em suas paixões...
defendida , por cada um deles com seus possíveis argumentos.
O primeiro morreu... Mas os outros dois continuavam a discutir...
Quem era a mais bela? O segundo morreu... o terceiro não tendo
mais com quem discutir... Se voltou e contemplou calmamente as três moças
dentro de sua memória... E foi separando aos poucos,devagar os detalhes que
haviam gerado anos de atritos,retirou a cor dos olhos,o peso,a altura ... então viu
o que não conseguira enxergar antes.
Meu Deus! São três moças! É isso...
Então ,gritou bem alto ,como se os que partiram pudessem ouvir!
A verdade absoluta é que são três moças,
não poderíamos dizer que são três velhas ou três crianças!
O que discutíamos era apenas relativo!
Entenderam?

Renildo Borges

Etéreo

É madrugada...
a alma se esvai num sopro etéreo
buscando vida
Caminha em profundos vales
caminha em rasas superfícies
vê luz dourada...um sonho
vê luz de vidro...a vida
É meio-dia...
o homem se vai
num passo apressado juntando coisas...
caminha por baixo das tempestades
caminha por baixo das sombras
vê letras rubras...desejos
vê falso azul...pacifista
É qualquer hora...
o homem e a alma
diante de tudo
diante do nada
nessa calma
vê coisas o homem que a alma não quer
vê coisas a alma que o homem não aprendeu.

Renildo Borges

Minha maneira de ser

Quando nasci, me programaram!
Como um software?
Não,creio que não!
Creio que tenho vida própria...
E que esta vida aqui , é minha!
Tentaram esconder de mim o amor...
Não conseguiram!
Eu amo às claras ,
de peito aberto,
sem reservas
Ou pelo menos tento...
Tentaram me nacionalizar duramente
“Ouviram do Ipiranga ás margens plácidas...”
Não conseguiram!
Me nacionalizei ouvindo...
Pra não dizer que eu não falei das flores
Tentaram me impor religião
Me batizando quando eu não podia escolher
Mesmo assim não conseguiram!
Amo Deus da minha própria forma e jeito
“Ame teu próximo como se amasse a ti mesmo”
Assim sendo minha maneira de ser
Quero amor...
me mostram o ódio
Quero sonhar...
eles me acordam
Quero dividir...
eles me dão muito pouco
Quero aprender ...
eles queimam os livros
Quero paz...
me dão farda e guerra
Onde os assassinos ganham estrelas
E estátuas pelas praças do mundo.

Renildo Borges

Vento coração

Não é de pão
A fome que eu tenho
Não é de sede a minha aflição
É o cego olhar nesse espelho vida
Buscando sim quando me dizem não
Não é de amigos
a solidão que eu tenho
Não é de brigas essa separação...
É o cego olhar com brilho de estrelas
Volvendo páginas na escuridão
Me diga sim...
liberte os teus desejos
Me diga sim ...
ao teu breve sonhar
Me dê a mão e ame a liberdade
De ter um sonho e de poder amar.

Renildo Borges

Canto Saudade

Essa cantiga
Que canta tão longe
Esse perfume que eu sinto no ar
São lembranças correndo no tempo
Nas ruas de Una...um pequeno lugar
Essas moças de bocas vaidosas
Meninas morenas a desabrochar
São lembranças perdidas no tempo
São flores de Una...
Meu doce lugar!
Essas casas de pente de palhas
Quiosque de Buti
e Bar de Bené
São lembranças correndo no tempo
A Bênção mãe preta...
parteira Libé
Esse rio que corre mansinho
Às vezes valente entre os seringais
São lembranças correndo entre pedras
Que morrem mansinho na beira do cais
Adeus meus amigos...
Tão longe e tão caros
Que não se ausentaram
Pra nunca chorar
Não temam o sereno dessa madrugada
É minha saudade tão triste a Lembrar.

Renildo Borges

Uma carta para Lucinete

Deve haver uma resposta
Nesse punhado de lembranças já apagadas
Na parede da memória...
Em que eu disse não...
O medo do risco sobre o cristal
De tantas razões que eu inventei
Ah! deve haver uma resposta
Naquela menina agora mulher
Por que o tempo não espera sonhos
Sei que ela ainda caminha
pelos becos incertos do
meu coração tão distante
Que não aprendeu a pesar
o sorriso daquela que ainda espera
encontrar a alquimia certa para me buscar no tempo
Quantos tons de batom sobre aqueles lábios sedentos
Quantos passos ensaiados e o medo de se tornar vulgar
Diante da minha visão bitolada
Deve haver uma resposta.

Renildo Borges

Por que me chamas?

Por que me chamas ?...
Oh vida !
Eu já conheço o mar!
e as ondas teimosas
e tristes
que sempre teimam
chegar
Por que me chamas?...
Oh vida !
Eu já conheço as manhãs!
onde corremos apressados
por coisas fúteis e vãs...
Por que me chamas?...
Oh vida !
Eu já conheço as flores!
mortas e despetaladas
por duvidáveis amores...
Por que me chamas?..
Oh vida !
Eu já conheço o vazio!
sem o riso
sem palavras
de um amor que partiu.

Renildo Borges

“Nos contratempos do tempo”

Nos contratempos do tempo
Saudei saudade nos ventos
Que passageira passava
Lembrança só me lembrava
Do tempo sem contratempos
Onde o menino brincava
Num riacho que cantava
Pela alva alvorada
Onde a vida era vivida
Nos contratempos do tempo
Sorri sorriso rasgado
Do passado que passava
Cara de zangão ...zangado
Do tempo sem contratempos
Onde o menino traquinava
Quando a tarde tardiamente
Rondava a ronda e me via
Oh, menino impertinente!
Credo em cruz!
Ave Maria!
Nos contratempos do tempo
Um adulto adulterado
Um sinal sinalizando
Que já passou o passado.

Renildo Borges

Resumo

Hoje resolvi escrever qualquer coisa...sei lá!
Um resumo de mágoas e dores...
Hoje não é um dia diferente,
é igual aos outros que desfilaram
diante dos meus olhos Incrédulos...vazio e sem cor
Por que a minha dor não impede
Que as pessoas sorriem,falem,vivam enfim...
E eu ? Ah ! eu sou apenas um pequenino ser
deste grande universo e alguém em algum lugar deve me conhecer...
E é pra esse alguém que eu escrevo
Não quero muito de você,apenas teu olhar sincero e leal.
Mas eu sou apenas um ser humano como outro qualquer
Com risos ,frases.lágrimas,raras alegrias e muitas mágoas também
Hoje estou tristonho,magoado...
Por quê ? Porque eu dei o máximo de mim e nunca recebi o mínimo de alguém.
Por isso me recuso a fazer um balanço de tudo por que já passei
e encontrar a razão que eu não quero aceitar.
É melhor permanecer cego,surdo e mudo pra verdade cruel que me aparece.
Pois minha idade ! Ah minha idade ! 20,30 70,100 anos?
Quem se importa?
Estou cansado desse mundo pecaminoso e cheio de prazeres patéticos.
Deve haver outra terra ,outro céu,outro mar...
Onde só de amor vivem todos
Olha estou bem!
Não fiques pensando que eu estou “gagá”
por estar escrevendo tanta coisa sem nexo.
Acho melhor chorar!
Mas pra que chorar ?
se os pássaros cantam,as crianças sorriem e o amor existe,
Existe é ? desde quando existe ?
Amor ! Que piada velha !
mas que todos ainda acham graça.
E você ?
Quantas voltas deu no meu interior agora...
Sabe ! Um dia destes ao amanhecer,
farei uma poesia só pra nós dois...
E será sucesso antes que algum desalmado a apanhe e jogue no lixo.

Renildo Borges

Palavras

Na garupa do silêncio
O tempo nada dizia...
Mas a voz do amanhecer
Me mostrava a agonia
A tristeza sobre a mesa
Junto com a reflexão
Discutiam calmamente
O caos que é a paixão
Vi o juiz consciência
O advogado o perdão
O promotor o pecado
E o réu meu coração
A lembrança às vezes vinha
Dizia palavras de amor
E o vazio pessimista
Gritava ciúme e dor
De repente a esperança
Chegou com a felicidade
Expulsou toda a tristeza
Te traz matando a saudade
Olhei a estupidez
Com vergonha...tão calada
Pedir desculpas ao amor
Palavras não é....
Só palavras.

Renildo Borges

"Flutuação"

De onde venho...
Não importa
Quem dirá com precisão
Já fui barro,outras terras
Fui penas de arribação
Até poeira de estrelas
Perdidas na amplidão
Onde estou Pouco importa
É o mesmo sim
Outros não
Hoje escrevo poesia
Amanhã sou perdição
As vezes devoto cego
Em outras flutuação
O que eu faço
Pouco importa
Eu sigo o meu coração
Amo flores ...primavera
Ou a lava...erupção
O que eu tenho
É quase nada
Dependo dos meus irmãos
Que semeiam árduos campos
Os que amassam o pão
Os que tocam às madrugadas
Notas tristes de ilusão
O que eu quero
É o que nos deram
No ato da formação
Carinho , beijo fraterno
A mão aberta... a ilusão.

Renildo Borges

Ventania

Canta o vento
Canta os pássaros
O canto é de todo dia
Já cantei quando criança
Os sonhos que eu queria
Choram as nuvens
Choram os rios
Choram o amor que se negam
Como os rios eu também choro
Nesses caminhos de pedras
Gira o mundo
Gira a vida
Com fronteiras
Com divisas
E versos como ataduras
Girando sobre a ferida.


Renildo Borges

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Novo dia

Quero dividir...
Mas só tenho dores
O pouco que eu tinha a muito se foi...
Eu tenho palavras...
Mas pra que dizê-las?
No meu vocabulário
há somente palavras amargas!
Gostaria de falar de esperanças...
De fraternidade...
mas pra que mentir?
Perdi a felicidade...
Se quiser falar de saudades
Tenho muitas...
você também deve ter!
Sei que o céu está lindo...estrelado!
Mas dentro de mim está escuro
Há mágoas por todo lado
Sei que queres em meu caminho
o que chamam de utopia...
Mas ainda está escuro...
Aguarde um novo dia!


Renildo Borges

“A canção do Dia”

De dia Na rua ...
onde tu passas
Meu coração descompassa,
No passo em que tu passas
Pernas tremem e a vista embaça
Me apoio na janela
Minha rua é passarela...
Como és bela!...como és bela!
Antes de dobrar a esquina
Antes de perder tuas curvas
Nesse vestido florido...
Seus cabelos solto aos ventos
Ai ,me Deus! Louco tormento...
Não me deixe de castigo
Me leve ao paraíso...
Vire-se! ...Dê-me um sorriso!
 A Noite Quando voltar...
Passe por mim devagar...
Deixe-me eternizar
Olhe o sonho em meu olhar
Ele irá te contar...
Que tu podes transformar
Meu inverno em primavera..
Como és bela!...como és bela!

Renildo Borges

“Matutices”

Lá vem a semana inteira
Sete dias ela me dá
Logo no primeiro dia
vou à igreja "rezá"
mas sem entender latim
Fico perguntando a mim
O que que o padre "falô"
Quando vem segunda-feira
Eu me lembro do sermão
quem não "trabaiá" não come
Não quero preguiça não
O galo canta eu levanto
e ele vai "galinhá"
Sete tarefas de mato
Papai deu pra mim "roçá"
Eu "oio" o tanto de urtiga
No mato a me queimar
Você! Vegetariano...
Pensa que é mole "plantá" ?
Dá seis horas e o tempo diz
que é hora de "encerrá"
Mas meu sonho de quimeras
Pede pro sábado "chegá"
Deito numa cama de varas
Num ranchinho beira-chão
Orquestra de pernilongo,
grilos,sapos e corujão
Mal chegou a terça-feira
e eu já tô no "currá"
“Maiada” esconde o leite
somente pra me "zangá"
Mas que vaca sem postura!
Não terás capim- gordura
e nem se o padre "implorá"
Nunca mais serás artista
Nos presépios de "natá"
A quarta-feira é com chuvas
Mas nada de "descansá"
Pitoco latiu no mato
Pra aquelas bandas de lá
Vou pegar a cartucheira
Moço ! não é brincadeira
Tem onça a me "tocaiá"
Quinta-feira chega um cabra
Não sei nem de onde vem
Cheio de conversa mole
É um tal de nhém nhém...
Me pergunta coisa aqui
Me pergunta pra acolá
Me disse que é do censo
Um tal de IBGE
Papai ficou muito irado
Disse-lhes coisas...O diabo
Ele logo deu no pé
Sexta-feira eu me dano
com meu facão jacaré
falta ainda duas tarefas
e ganhei corte no pé
Moço! papai é honesto
Nunca ouses "duvidá"
Vou te contar na surdina
segredo entre "nois" cá
assim ,Sábado eu tô quebrado
Pro baile do arruado
Onde tem uma morena
Por nome de açucena...
Nem sei se devo "contá"
Vou deixar você pensando...
sozinho à "imaginá"
Mas não sejas indecente...
Não tentes "vulgarizá".

Renildo Borges

“Por Amor do Teu Nome”

Me mostre os verdes pastos,
e afagues o meu coração
A noite vem chegando,
me mostre a verdade
e o que é ilusão
Por amor do teu nome,
por amor do teu nome...
Ainda que eu erres,
me ensinas a caminhar...
Eu estava perdido,
mas vim te buscar
O vale da sombra por onde eu andei
Tinha pedras, espinhos mas em ti confiei...
Por amor do teu nome,
por amor do teu nome...
A estrada é estreita ,
mas tenho que andar certamente
o amor e a fé irão me acompanhar
Tua luz limpará toda escuridão...
Eu não ando sozinho,tenho muitos irmãos...
Por amor do teu nome,por amor do teu nome...
Tua igreja nascendo como o amanhecer...
Como flores na terra, pra todos te conhecer
Cumprindo a tua palavra ide e pregai...
Pois tu és o caminho...que levas ao Pai
Por amor do teu nome,por amor do teu nome.


Renildo Borges.