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sexta-feira, 8 de novembro de 2019



O Silêncio dos Pássaros


Seu Galalau já não tinha aquela postura ereta
Os anos foram pesando e arqueando lhes as costas
Aquele olhar de um azul profundo que acolhia todo mundo
Agora era desprezado
Aquele homem que passou e nem lhe deu bom dia
Era filho de Sofia que um dia acudiu nos braços
E não havendo tempo e espaço ele mesmo fez o parto

Seu Galalau já não tem aquela voz macia
Que chamava a atenção de quem a ouvia
Pediu com educação,por que isso nele permanecia
Se aquele moço podia,mas antes de terminar a frase ouviu um não
E isso dilacerou seu coração,aquele moço era filho de Adão
Aquele que ele lhe deu a primeira instrução
Se achou um mestre ruim,se culpou pelo resto do dia
E carregou aquele peso a mais nas suas costas que doía

Seu Galalau tem os cabelos brancos
O sol que bate neles agora já não realça o loiro bonito de antigamente
Que muita gente admirava e elogiava,outras até se apaixonava
Uma delas pariu sete filhos teus
que se perderam pelo escuro breu
Dos becos da ambição
Levaram tudo que seu Galalau tinha de valor
Valor material
Depois que ela morreu
Menos a sua decência e o seu amor
Que seu Galalau tentou lhes dar
Seu Galalau também carrega essa dor
Seu Galalau está muito cheio de virtudes e amor ao próximo
Ninguém apanhou com ele um pouco daquilo tudo que ele tinha
E aquilo foi juntando e juntando no seu coração
E seu corpo foi ficando cansado e carregado
E seu coração não pode suportar tanta coisa assim
 
Seu Galalau partiu de manhã
Era Domingo,havia céu azul e sol
Mas os pássaros se emudeceram
Dizem que os sabiás choraram
Quem passava estranhou aqueles tantos pássaros
Calados sobre os muros do cemitério
Por que eles ouviram e viram
Seu Galalau durante anos
Em sua labuta
Para preservar e difundir o amor
E por isso o respeitaram
E o pomar com suas árvores frutíferas
Que seu Galalau plantou
Alimentará ainda por muitos anos
Aqueles pássaros sensíveis
Muito melhores que os homens.

Renildo Borges

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