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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os mortos não riem jamais


Riram do tênis que minha mãe me deu
Da minha calça sem marca
Da minha camisa sem estampa
Do meu pulso vazio
Até tudo ficar sem graça
E abaixar a fumaça
Dos seus vícios que eu não tinha
Por que a mãe era minha
Sentada cansada ao meu lado
Olheiras,calos nas mãos
Eu lá dentro do seu coração


Riram dos recados dados
Por minha mãe para entrar
No meu celular barato
E me chamaram de fraco
E caíram no assalto
Que eu não quis participar
Por que minha mãe me disse
que o mais caro que existe
é ter a sabedoria de obedecer pai e mãe

Riram do Deus que eu tinha
Da favela de onde eu vinha
Dos meus livros emprestados
Por quem tem bom coração
e não viram a escravidão
com seus olhos doutrinados
pra ser apenas escravos
dos anúncios da tv

Minha mãe ainda me olha por cima
das lentes dos óculos
para não ter nenhuma interferência
de tua verdade tão limpa
-Cale a boca e me obedeça!
Quando de quando em quando
Volto ao meu velho lar e vejo
Lá fora nas esquinas do ontem
os velhos fantasmas dos meninos
picham os muros com uma frase triste
(os mortos não riem jamais)

Renildo Borges

Quando chega a escuridão


Quando eles se vão
Deixam um vazio
Um abismo
Uma imagem dentro da lembrança
que dança e dança...


Quando eles se vão
levam sem querer
a alegria e deixam só
a tristeza de perder
sobre a mesa
que castiga e castiga...

quando eles se vão
deixam um rastro de saudades
pelas noites de lua clara
num céu que nós inventamos
que embala e embala...

quando eles se vão
levam seus abraços
a mão que levanta
pro primeiro passo
nos afastando dos embaraços

quando eles se vão
vem a escuridão
o medo da contramão
e a vontade de ir também
mais além...

Renildo Borges

Depois das curvas da moça ou de um filme de Freud e Jung


Quando desço do céu das coisas que não vi
mas acredito
e guardo com cuidado
dobrado sobre a cabeceira das religiões
o pudor
a vergonha
e tantas outras coisas medonhas


e caminho pelo inferno que me leva ao êxtase
nas curvas da moça que me escolheu
pra ser todo seu
sou completo
meus lábios sorve o doce do beijo que
quero dar
minhas mãos caminham por onde eu sinto
prazer em tocar

sobre a pele
o perfume caro
o perfume barato
tem o mesmo valor
quando eu sentir por aí
em um tempo outro
lembrarei
do teu gosto
desse momento
desses instantes

mas lá fora onde prenderam o desejo
e grita um fantasma itinerante
tudo iniciativa do ato
nefasto
diz o reprimido escondido
na esquina perdida da libido
eu não sou Judas
eu quero ver apenas depois da curva
por favor
não feche sua blusa
nem sua mente que mente
espalhando por aí sementes.

Renildo Borges

Eu choro de cara limpa


Limparam a minha cara suja da verdade
De quando criança
De quando eu tinha
Nas asas do vento
A felicidade
E me maquiaram
Com a cor da mentira
Que vestem os adultos


Chorei dia e noite
As lágrimas da dor
Que por fim limpou
Toda imundície
Que a boca falou
Que os olhos viram
E as mãos praticaram
Na cega ilusão…
E eu choro de cara limpa.


Renildo Borges

Quando anoitece lá fora



A tua mão estendida com nojo
Alimenta meu corpo
e mata minha alma

não me tome por estúpido
por eu estar nestas condições
ainda consigo ler tua alma

de amores com a mentira
aplausos comprados
dos que se venderam

já fui como tu,cheio de ilusões…
a minha alma é a mesma
com algumas correções
da fria verdade

desnudando a realidade
inventada pelos homens
covardes
traiçoeiros
vendedores do imperfeito

Não será anotado
este teu gesto esnobe
Só por que você pode
Mostrar para (imundo) mundo
Tuas posses, teus cobres
No livro dos bons

Escrito com justiça
Por quem não é submetido
A essa falsa glória que a morte carrega
Um dia qualquer.

Renildo Borges

Muito além do agora


Quando o dia amanhecia
esperança já de pé
chamava sempre risonha
pra caminhar pela vida
Eu,a coragem e a fé
Ah ! como o dia era bonito
na sede,beber sorrisos…
na fome,comer abraços…
pequenos traços nos rostos
nos olhos o mais puro gosto
de quem amava viver


Quando o dia anoitecia
tinha encontrado alegria
conversado com o amor
abraçado quem sorria
chorado com quem chorava
lágrimas de sinceridade
cumprido promessas feitas
à minha alma satisfeita
de ver lá fora a vida

Agora é só madrugadas
a esperança já cansada
encontra homens já mortos
vivo apenas os corpos
(Marionetes patéticas)
sem carinho
sem afeto
nem mesmo um pequeno gesto
de que há ainda amor
com ódio espalham dor
Por ganância
Por dinheiro
Por mentiras inventadas
Pelas drogas fabricadas
Por quem nunca teve amor.

Renildo Borges

Francisco José de todos os Santos


Francisco José de todos os Santos
De todos os cantos da velha Bahia
Descendo a ladeira em dia de feira
Montado no velho e fiel alazão
Trazendo nas mãos,os calos e as rédeas
As lutas,refregas dos dias de cão
Mas tem esperanças conhece as danças
Não leva uma “tauba” dessa vida não


Francisco José de todos os Santos
De todos os cantos da velha Bahia
Conhece a verdade, pagou o seu preço
Sem rezas, sem terços, sem falsa alegria
Dançou a ciranda nas brasas do tempo
Em nenhum momento sentou pra chorar
Vontade ele tinha mas não tinha tempo
Com cinco rebentos pra ele cuidar

Francisco José de todos os Santos
De todos os cantos da velha Bahia
Ninguém lhe ensinou mas tudo sabia
O quanto valia a hora e o dia
que o tempo vendia
que o tempo cobrava
que o tempo as vezes até esquecia
o peso dos anos
a fragilidade
os sonhos desfeitos
as duras verdades
e a vontade de ir
por que já é tarde.

Ao meu pai Francisco José dos Santos com seus 95 anos de idade.

Renildo Borges

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Na vila do bem querer


Quando chegar não sei quando
Minha esperança já morta
Bem no batente da porta
Que dá pra desilusão
Não mão um punhado apertado
De tantos sonhos sonhados
Derramando pelo tempo


Não se ria de minha rosa
Plantada dentro de mim
Diga palavras amenas
Que regue a flor do querer
Que espante a tristeza
Que sentada do meu lado
me diz que não pode ir

Quando chegar não sei quando
que seja pela manhã
quando o sol aponta o ponto
na vila do bem querer
revelando os sentidos
teu cheiro
tua mão na minha
teu olhar mostrando além
teu gosto na minha boca
sussurra no meu ouvido
faças tu por merecer
possua os sete sentidos.


Renildo Borges

Pelas ruas de Mumbuca


Moça bonita eu te disse
Amor não é de encomenda
E não se encontra a venda
Pelas esquinas do mundo
Não sabemos e onde vem
Qual mês, que hora ou que dia
se chama Pedro ou Maria
se vem num cavalo branco
ou se montado no vento


Me pediu! Isso é verdade
Naquele dia à tarde
Na festa de Santo Antônio
fita branca de três palmos
você em frente do santo
não sei o que você pediu
Mas amor por caridade
Como se fosse por pena
Dessa tão bela morena
Sinto mas não posso dar

Moça bonita eu te disse
Que amor não é palpite
Sei que você ainda insiste
E olho teus olhos tristes
cortando-me o coração
me olhando na janela
quando passo em tua rua

Moça bonita eu te juro
se você continuar…
com esse jeito dengoso
de quando passa me olhar
Ah moça! Nem quero saber
Que rumo isso vai dar
Posso ficar sem vergonha
Me aproveitar de você
Sentir de perto o teu cheiro
Fazer o que bem quiser

Moça bonita e agora?
Fizemos o que não podia
Não quero você falada
Pelas ruas de Mumbuca
Vai que fica embuchada?
Credo em cruz !
Ave Maria !
Teu pai é cabra valente
Se desconfiar da gente
É melhor nós ...Bem!
Tu vai lá no padre
que eu vou no cartório.


Renildo Borges

Uns versos pra ser feliz



No caminho pra quem sabe
me pergunta o passarinho
Pra onde vai?
Respondo vou por aí…
Não tenho mais irmãos ou amigos
Perdi todos para o perigo
de viver
de estar vivo
esperando apenas o dia ou a noite
quando o invisível açoite
retirará do meu corpo a alma
repleta de sonhos não vividos
de amores que desejei
do beijo que não senti o gosto
de esperanças em alvoroço
mortas ao final de cada dia


Ah, e na minha mente
inventiva … insistente
delira terrivelmente
o rascunho do corpo dela
desculpe as outras lindas meninas
mas tenho queda por morenas
com a cintura bem fina
os seios médios rosados
os olhos negros ou castanhos
prestando atenção em mim
mas sem notar que eu sou grande
um tanto desengonçado
mas querendo um amor ao lado
pra viver e ser feliz

não tenho apartamento
nem sei quanto vale o jumento
uma tapera ,uma cabaça,o pilão,
três rapaduras,
meu coração sonhador
que herdei do meu avô
nordestino até na alma
debaixo da lua branca
pousada na minha dor
com saudade de quem foi.

Renildo Borges

Vendaval


Quando ela chegou era de manhã
Não disse bom dia
nem se eu queria
E foi logo entrando
Destampou meu coração
meteu a mão apalpou
Ora de modo bruto
que me provocava soluços
Ora de um modo dissimulado
atrás de algo passado
Mas nunca de um modo eu sou tua
Mesmo se em meus braços estivesse nua


Sabia de minha carência
De minhas noites vazias
que se estendia pelo dia
Do fogo que ardia em mim
Da minha cega paixão
E ela me tendo nas mãos
Me fez de gato e sapato
Usou ,abusou e gozou

E quando se foi
numa quarta feira de cinzas
Me disse com voz ferina
Você é muito besta!
Tem coisas que a gente esconde.

Renildo Borges

Entre a cruz e a espada


Prenderam seu Gabriel
homem honesto,fiel
aos mandamentos de Deus
só por que se sucedeu
que teu menino mais novo
andando lá no meio do povo 

Uma gentinha miúda
com titica na cabeça
e se fazendo de besta


Diziam que a palmada
nunca devia ser dada
que estava condenada
Por uma assembleia indecente
duvido se era de gente
que acreditava em Deus
Que um dia escreveu
”Corija seu filho com vara pra não chorar sobre seu túmulo depois”

Seu Gabriel não devia
nenhum centavo a ninguém
Se não tivesse vintém
que os seus braços ganhava
Por certo é que ficava
com fome mas com a vergonha
Bem estampada na cara
pois um cabra do sertão
Não perde a vergonha não

E o juiz perguntou: Você bateu no seu filho?
Seu Gabriel respondeu: Bati e bato de novo
Se ele andar no meio de um povo
viciado em pecado
Contadores de mentira
que não respeita os mais velhos
Que não tem papa na língua
e sai falando besteira
Ofendendo a família
e a perfeita harmonia
de andar na lei de Deus.

E foram deliberá entender o beabá
Do sertão do Ceará
frente aquela lei sem jeito
Desmanchando o que é perfeito
E quando o juiz voltou
olhando meio acanhado
Para seu pai ali presente
com aquele olhar lhe dizendo:
Veja lá o que tá fazendo !
Se não lhe dou uns tabefes
E veio o veredito
sobre o dito por não dito
Mas será o Benedito?
Com medo de levar um pito
o juiz argumentou que vale mais obedecer a Deus que aos homens
e por isso não podia manter preso um homem
que desobedecia homens ao invés de Deus.

Renildo Borges

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Meu sangue não é negro nem o teu é branco.

A voz que ouço na escuridão do beco
É de um branco ou de um preto?

O sangue vermelho sendo analisado
Fator Rh quem foi que doou?

Será que pela cor poderá me dizer
Se foi um mulato,negro,sarará
Comia muqueca,cocada,abará?

Se foi mameluco sujeito treitero
Das bandas de Minas que trocou por dinheiro?

Se foi a cigana que leu minha mão
Por umas moedas pra comprar o pão?

Se foi um gaúcho de bota e bombacha
Com cuia,guaiaca e o teu chimarrão?

Se foi um menino talvez nordestino
Que fugiu do Pará num barco a vapor?

Mas não foi preconceito escroto sujeito
Sem eira nem beira,sem Deus ,sem irmão.

Por que o espanto?
Meu sangue não é negro
Nem o teu é branco.

Renildo Borges

sábado, 29 de julho de 2017

A deus dará


Ando comigo e com outros tantos
Que achei pela vida,nos becos e sem lares...
Lembranças ,saudades e algum pranto
Do amor que nunca tive os olhares


Ando comigo e com outros tantos
Que a ninguém perguntam
Só a deus dará
Se o preço da vida é essa dor que fica
Doendo ,doendo até acabar

Ando comigo e com outros tantos
Irmãos de tristezas e exclusão
Órfãos de amor e de algumas palavras
De colo,aconchego e de pão

Ando comigo e com outros tantos
Colhendo a dor que tu semeaste
Pra alimentarmos a coragem
e viver o papel
De estar à margem
e viver ao léu

Ando comigo e com outros tantos
Escrevendo a vida em dias cinzentos
Não perguntamos aos pássaros por que cantam
Nem ao homem que passa e se ri de nós
Apenas perguntamos a deus dará
Cadê nossa voz?

Renildo Borges

Essas moças!



Darei meu vestido branco
Sem as manchas do meu pranto
a moça linda que passa agora
com um sorriso encantador
a procura de um amor
Outrora
Também passei como ela
Era bela
Tinha vida
Meu corpo limpo sem malícias
Até que suas mãos me tocaram
Com cinismo
Com carícia
Minha beleza fugiu
E conheci a tristeza
Em madrugadas acesas
Eu procurando o amor
Na tua boca
No teu olhar
Talvez em teu coração
Que hoje sei é de pedra


Darei a moça linda que passa agora
A minha desconfiança
O fingimento do amor
Um gemido de mentira
Sentado a beira da cama
Nunca serei do senhor
Não nasci pra ser mucama
Num mundo de faz de conta
Aliança
Véu
Grinalda
Meu corpo atrás da porta
Gritando que tem vontade
E meu amor passeando
Não sei com quantas
Nem onde
Mas agora já é tarde

Darei a moça linda que passa
Receitas de pratos que fiz
Que nunca foram provados
De doces que amargaram na espera
De como conversar com as paredes
Em muitas noites vazias
Nunca ligar para a mamãe
Ela dirá aguente firme
Uma vítima como tu
E falará do teu pai
tal e qual o teu amor
pra não arranjar um amante
guardar o respeito por ti
que é o único que lhe resta
Ah,moça linda que passa!
Se soubesse!

Renildo Borges

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Retórica absoluta.


Na esquina do tempo
Já me dizia o vento
A vida não é uma reta
Tem descida e tem subida
Tem curvas belas de moças
Bilhetes de despedidas


Na esquina do tempo
Já me dizia a saudade
Amor não é algo que compra
E também não se encomenda
Chega sem hora marcada
Sem convite vai entrando
lhe aponta esse ou aquela
E fica pelos teus olhos olhando
mal me quer bem me quer

Na esquina do tempo
Já me dizia sabedoria
Sábio é quem fica calado
Palavras às vezes é combustível
Acende a ira desperta a morte
Nada se ganha ou se leva
Na força bruta ou na sorte

Na esquina do tempo
Já me dizia o medo
Uma coisa corriqueira
Que não é nenhum segredo
Você passa e eu vou ficando
Assombrando a presunção
Dos tolos homens feitos de pó
Que ao pó retornarão

Renildo Borges

Antes da escuridão.


Quando o dia ainda era flor
Só conhecia um amor
De mãe
De pai
De irmãos
E era tão feliz então


Quando o dia ficou verde
Veio a infância e a sede
De correr em campo aberto
Bola de gude
Pião
Meu papagaio no vento
E era o rei das histórias
Que contava a minha avó

O dia ficou de vez
Fiquei pensando em Inês
Também desejei Estela
Mas tive medo do pai dela
Optei por uma baiana
Que me ensinou abc
Não me pergunte de quê
Pelas noites do pontal

O dia ficou maduro
E eu perdido entre muros
cheiro de frutas e de moças
em meu nariz em minha boca
labirintos da paixão
cadê a minha razão
qualquer coisa por seus beijos
ansiedade
desejos.

Renildo Borges

A admirável conveniência humana.


Vou caminhando pelas ruas vazias
O mendigo com a mão estendida não existe
Assim como também não existem os pivetes
Com suas colas,crack e maconha
Não existem as prostitutas, os travestis...
Apenas as igrejas com suas estátuas frias,
caladas e sem vida, como eu, um homem morto
que os “amigos” chamam de bom


Vou caminhando pelas ruas vazias
Os velhos com suas bengalas desde as duas,
três,quatro horas da manhã nos postos de saúde,
com fome, aguardando a morte...
Não existem
Os traficantes licenciados pelo estado
Que vendem cigarros que matam 5,1 milhões de pessoas p/ano
Não existem
Não existe também o traficante de álcool que matam
3,3 milhões de pessoas p/ano

Vou caminhando pelas ruas vazias
A multidão que protestava a pouco
estão no estádio vendo um jogo que nada acrescenta
e os outros foram trabalhar pra pagar uma fantasia e desfilarem
“patéticos” no carnaval para gringo ver.
Não me odeiem ainda por favor, por que nem falei em dízimo
e falsos pastores,por que eles não existem

Vou caminhando pelas ruas vazias
de um país laico, mas que tem padroeira,
quando o papa chega há um aparato do estado a seu serviço
gratuitamente e é dona de quase todos os cemitérios do pais,
de todas as santa casas e cobram caro por seus serviços
Agora podem me odiar,se quiserem,
por que não preciso de religião e nem de suas falcatruas
eu preciso apenas de Deus e de obedecer os seus mandamentos.
Obs.
Por favor podem me explicar o que é ser um país laico ?

Renildo Borges

terça-feira, 30 de maio de 2017

Olhos de meninos.


Num beco sem saída
há vida!
no vento que sussurra baixinho
um caminho!
Num canto do pássaro que entra
sem licença!
Na lágrima sentida que cai
e se esvai!
Na dor que contigo conversa
ora essa!
Vem cá!
Eu te mostro o caminho...
Olha o espinho!
Olhos de meninos.


Renildo Borges

Uma dose de coragem e outra de ilusão.


Dê-me uma dose de coragem
No gargalo de sua boca
Para que eu suporte os vícios
Que brotam na vida tosca
Mandai as vossas mensagens
Traduzidas na língua do amor
Pelos desertos da alma
Pela solidão da dor


Se puder mande-me a calma
Se puder mande-me a fé
Que emana em vossa alma
Que vem dos ventos do além
Pra quem não tem mais coragem
Pra quem não tem mais ninguém

Dê-me uma dose de amigos
Outra de sabedoria
Para ver a escuridão
Disfarçada em pleno dia
Com venenosos perfumes
Caminhos de ilusão
Morte na canção de sonhos
Que nos levam pela mão

Dê-me um canto qualquer
Dos que tem coragem e cantam
E dançam em fios de navalha
E quando caem levantam
Pelos becos e vielas
Nas favelas
No sertão

Dê-me uma dose de coragem
E outra de ilusão
Se eu me perder da vontade
Me carregue pela mão

Renildo Borges

A alma é nua


Não gosto de coisas medidas
Uso punhados ,pitadas...
Por que não sei que tamanho
É teu amor
Tua alma
 

Metrificar poesias
Ah! Isso eu não faço não
É como se fosse medir
teu amor
tua ilusão


Eu gosto do que é livre
poder correr e voar
um sorriso abrindo a porta
para um abraço fechar
nos mundos que eu invento
muito além do teu olhar

Não gosto de coisas pesadas
Em balanças desonestas
Dos covardes escondidos
Nos olhando pelas frestas
Pesando e medindo tudo
amores,gestos ,palavras
liberdade nunca é tardia
enquanto houver luz do dia.

 Renildo Borges

A mulher do meu poema.


A mulher que está no meu poema
Não é uma mulher que eu inventei
Sem nenhum defeito
Sem nenhuma dor
Sem nenhuma mancha
Sem nenhum vexame
Sem nenhum ciúme


A mulher que está no meu poema
Era cega ou louca
Me fitou nos olhos
Beijou minha boca
Trocamos salivas
Trocamos fluídos
Tinha TPM
E também tesão
E ficou pra sempre em meu coração

A mulher que está no meu poema
Não é imaginada
Tinha identidade
Ficava menstruada
qualquer rabo de saia
Ficava enciumada
E vinha com pau pra me dar porrada

A mulher que está no meu poema
Esteve em minha vida
Se chamava Rosa,
Lúcia,
Margarida...
Gostava de sol
De acarajé
De forró
De samba
Bolo de caroço
Marcas de batom e marcas no pescoço.

Renildo Borges

Para temperar as manhãs cinzentas.


Quatro ou cinco olhares
Um pedido de namoro
Meia dúzia de palavras
Um entendimento completo
Quinhentos gramas de amor
“Por ser muito caro e escasso”
Quatro cubos de carinho
Um molho de paciência
Meia xícara de sensibilidade
Uma pitada de coragem
E reserve


Bata o coração com bastante emoção
Vai botando a compreensão,
as desculpas e o perdão aos poucos
E continue batendo até que o amor
Esteja homogêneo a ponto de suspiro

Depois aqueça a cama ,ops! Digo a forma
Unte com...Ah, você sabe com o que!
Coloque dentro da forma e vai mexendo devagar
Até você sentir que tá bom
Depois de nove meses retire da forma
Dá um trabalho enorme
Mas você ficará muito feliz
Por que fez tudo direitinho
E agora é mãe.


Renildo Borges

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Toda presunção será castigada.


Juntei todo o meu dinheiro
Minha fama de infalível
Pintei os olhos de poder
Para lhe ter
Sem desculpas
Sem saída
E pressionei


Por quem me tomas ela disse
E os olhos por outros mundos
Vers libre tão profundos
Contando as horas do dia
esperando,esperando
o que não se pode ver
o que não se pode tocar
versos soltos pelo vento
suspiros,contentamento
um poeta vagabundo
que vomitava palavras
tinha ido tão profundo
e era o dono de sua alma


Renildo Borges

terça-feira, 23 de maio de 2017

O que sobrou de mim pra você com carinho.




O que sobrou de mim pelos bares,
pelas noites,
pelas ruas
Você juntou num abraço

O que de mim foi rejeitado,
desmoralizado,
ignorado
você sentou-se a meu lado e ouviu

O que de mim não queriam
como a fé em um novo dia
queriam só a matéria
com ódio no tribunal
você ficou com a fé

O que de mim eu guardei
com vergonha
escondido
no meu peito
você achou tão perfeito
e me beijou daquele jeito

Renildo Borges

domingo, 7 de maio de 2017

Et sis reus.


O dia amanheceu
Quem sou eu?
Quem sou eu?
Rabiscos de humanidade
O amor livre me despejou nas ruas
Meu ódio sustenta os olhares
dos arrogantes pecadores passantes
O sêmen ainda escorre dos seus ânus
Esperma e whisky em suas bocas sujas
As velhas feministas enrugadas
Lamentam que a puta que me pariu
não era também assassina
covarde o bastante pra fazer aborto
e presas em grades do seu passado...
Sabem que aqui fora eu as julgarei
Com a mesma medida as quais me condenaram
Sem nenhum diálogo ou um defensor qualquer
Apenas o ódio e a sentença fria da “MORTE”
O dia anoiteceu...
Toda rebeldia te escraviza à morte
Nunca serão livres como eu.



Renildo Borges

sábado, 29 de abril de 2017

Dentro de mim cabem tantas coisas.


Dentro de mim cabem tantas coisas
Os paturís descendo na lagoa com medo
que a fome do homem cortasse o ar
com seu chumbo cinzento anunciando a morte
Eu menino, os admirava,escondido entre o arrozal
e procurava em mim o medo que assombrava
os pássaros,os peixes...
o vento traz um cheiro de fruta madura
uma batata doce assa sobre as brasas
um homem roubando a vida do peixe
uma capivara lamenta o descuido
a faca do homem derramando a vida


Dentro de mim cabem tantas coisas
Vó Ana contando causos lá pela boquinha da noite
Seus netos esparramados pelo chão à sua volta
Cada um imagina a mula sem cabeça da cor que seu medo pinta
Lá fora na escuridão da casa de fazenda
o vento murmura entre as árvores qualquer coisa
que nos faz arrepiar os pelos do braço e da nuca
os mais novos já perderam a batalha para o sono
pequenos corpos estendidos sobre as velhas
esteiras de taboa
Vó Ana boceja o cansaço de um longo dia
e me fita com aqueles olhos me dizendo vá dormir menino
mas a mula sem cabeça ainda não correu as sete freguesias
pra desfazer o encanto e eu permaneço firme

Dentro de mim cabem tantas coisas
Uma moça que vinha de longe se aproxima
Tem os olhos negros como seus cabelos
Alguma coisa dentro de mim se modifica
não sei o que é mas gosto do que sinto
caminhamos pela noite sem planos e sem destino
um dia compramos algumas panelas
alugamos uma casa e fomos morar juntos
ela ressona levemente ao meu lado
não é mais a moça de vinte e tantos anos atrás
mas a lembrança viva em mim permanece
Você me fez a pessoa mais feliz do mundo
Disse ela um dia recostada no meu peito
Eu e ela de mãos dadas vamos ver nossa primeira neta.
Dentro de nós cabem tantas coisas...

Renildo Borges

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Um abraço para nos devolver a humanidade.


Anoiteceram as manhãs
Os cegos tateiam o nada
Os surdos ouvem o silêncio
Sinto apenas passar por mim o vento
O sopro divino ainda permanece
E nele eu procuro a luz...
Um abraço que quebre todos os medos
As algemas dos vícios que voam
com a solidão da meia noite


Anoiteceram as manhãs
Sento à mesa desfeita onde não há mais comunhão
O amor rejeitado agora é um pão bolorento
A sopa de religiões é uma panela fervente à minha frente
muitos se servem da sua porção de ódio
Sinto saudade da família desfeita,
trocada pela imundície dos que se deitam
pelas sete freguesias num pacto com as trevas

Anoiteceram as manhãs
Buscaram a liberdade e lhes deram vícios
Um homem depilado e castrado escorre na sarjeta
O passivo ativo ativista nada me pergunta
Uma mulher quadrada não pode entrar no círculo
Trago a fumaça do diabo... cannabis sativas
E respiro a liberdade de ser um idiota
Um resto de pó em minhas narinas me revela
que não sou só um passante
A multa pelo lixo na avenida me cobrarão mais tarde
Anoiteceram as manhãs...

Renildo Borges

Ausência.


Disseram vão!
Mas havia um vão no meu coração
Onde só cabe você
o corpo foi
o pensamento não


um corpo na madrugada
bebidas,músicas e baladas
eu errante
eu ausente
e o pensamento distante


Ah ! quem dera você presente!
de presente nessa festa tosca
Vem beijar minha boca!
Vem tocar em mim!
Me levar pra tua casa
Nessa estranha madrugada.


Renildo Borges

Pequeno dicionário da hipocrisia.


Tudo parecia perfeito até que fizeram a cerca,
do lado de cá ,através da cerca ainda se via
a feira do olho grande,onde o mais ganancioso
ganhava prêmios por ter extorquido os outros
E estampavam nos jornais que era grande
Mas do lado de cá da cerca eu os achava pequenos e imundos
carregando tantas coisas inúteis em suas mãos sujas
Não demorou e levantaram muros para os separar
daqueles que não eram mais “grande”e alguns
que ficaram “pequenos” foram expulsos pro lado de cá
Um dia através da cerca eu vi o ceifador

(senti uma alegria estranha ao vê-lo e tive medo de mim mesmo)
Mil caíram ao meu lado tentando passar pro lado de lá
e dez mil do outro lado da cerca
Com medo da morte inventaram hospitais,abriram os outros mortos
fuçaram tudo que havia dentro mas não descobriram
que o que nos mantinham vivos era só um sopro divino
e que aquilo não estava na mão do homem
(Ficaram muito frustrados e foram ficando chateados
e foram ficando desiludidos e de repente “eureca!”
Algum maldito trouxe a maconha,a folha de coca,a papoula,

o álcool,o fumo e outras babaquices para o homem que é fraco 
pensar que é forte e continuar achando que pode ir adiante com sua mentira)
Estudaram tudo que podiam,levaram os negros,
os pobres,os analfabetos como cobaias

(só não entendi por que não levaram os ricos já que achavam que eram diferentes dos outros)
Testaram os seus remédios que matavam mais que curavam
inventaram a chave e esconderam a poção da mentira
em seus cofres malditos , outros tentaram tomar e começaram a brigar
Inventaram a guerra e mataram velhos e mataram mulheres e mataram crianças...
Do lado de cá alguém escreveu numa pedra à beira da estrada
“Só Jesus Cristo Salva” gostei daquilo e saí a perguntar
Quem era Jesus,e perguntei durante dias e perguntei durante noites
Uns disseram ELE VIVE,outros disseram mataram ele do lado de lá.


Renildo Borges

domingo, 23 de abril de 2017

Mais vale um cachorro vivo do que um leão morto.


Quando roubou meu sorriso
E descaradamente o trocou pela tristeza,
pelas preocupações e noites mal dormidas
Te perdoei !


Quando estampou a minha vergonha
pela vizinhança e o riso dos covardes
por trás das minhas costas quando eu passava
Te perdoei !

Quando bateram em minha porta
quatro “homens” todos com a covardia
na cintura à mostra e me intimaram:
-Ou você dá um jeito ou a gente dá!
Te perdoei !

Quando eu e Deus chegamos a um impasse
meus olhos fundos me vendo lá no fundo
nenhuma bonança,apenas tempestade
e o vento soprando uma só verdade:
“Mais vale um cachorro vivo do que um leão morto”
Me perdoei.


Renildo Borges

Sem saída.



Não adianta fechar a porta
Por cadeado no portão
Ela virá a hora que quiser
Quer você queira ou não

Não adianta fechar os olhos
Ir pro boteco
encher a cara de cana
Ela virá a hora que quiser
Em qualquer dia da semana

Não adianta mudar de lugar
Fugir pra Bangkoc
Chechênia
ou Afeganistão
ela virá a hora que quiser
e te levará pela mão

Não adianta chamar os amigos
fazer uma festa
uma revolução
ela virá no meio da festa
na letra da música, numa velha canção

Não adianta tomar soníferos
dormir a noite toda sem acordar
ela virá a ti em sonhos
e pela manhã você vai se lembrar
que as lembranças não morrem
a saudade também não
sempre estarão contigo
dentro do coração.

Renildo Borges

Quando escurecer lá fora.


Quando escurecer lá fora
Não se agarre as poesias e poemas que escrevo
Por ser parecido aos amores
que a vida traz e leva
O corpo perfeito
e os pensamentos tortos
Com todas as cicatrizes
expostas ou escondidas
minha vida ,tua vida,outras vidas...


Quando escurecer lá fora
não se agarre as palavras
que rasgam as lembranças escondidas
enterradas longe do coração
sob uma laje fria
o leito secos dos olhos irão umedecer
e por sulcos na face das noites mal dormidas
correrá devagar a certeza que tu ainda não esqueceu

Quando escurecer lá fora
não se agarre as lembranças que traz excitação
o beijo,o gosto,os corpos...
masturbação
tudo vai e vem ,como as manhãs,
como dor de cabeça
e as febres terçãs.

Renildo Borges

Verdades.


O que tu tens?
me pergunta o dia
olhando minha cara amarrada
a um amor que inventei
O de verdade dói pra caramba
vira enredo de samba
macumba pra trazer de volta
seresta embaixo da janela
se for ela
até crime passional
estampado no jornal.


Renildo Borges

Em cima do muro


Queria que fosse diferente
Mas essa gente
Piercing !
Tatuagens !
Brincos na orelha !
Calças com as bocas apertadas
Mais nada.


Queria conversar de outras coisas
Mas essa gente
Já é !
Qual foi !
Mengão !
Nada a ver com meu coração
ou qualquer erudição

Queria contemplar a beleza de ser humano
Mas essa gente
vazia
pensa na grana
que é concreto
paga a conta do boteco
e a cocaína;o traço
O amor é abstrato.

Renildo Borges

Flashes e Fragmentos.


Na rachadura do tempo
Escapa
Sem que eu possa conter
Você


E traz-me um cheiro de ontem
Madrugadas
Horizontes
Sussurros e dois amantes


Não peço pra ir embora
Porque não temos mais hora
Porque não temos nós dois
Somos só o que já foi
Flashes e fragmentos
Como fantasmas no tempo.

Renildo Borges

O amor nosso de cada dia.


Mamãe minha meia
mamãe tô com fome
e chega o homem já de tardezinha
depois do jantar
depois de fumar
a mão entre as coxas
a língua na boca
e sobe e desce
crianças lá fora
alheias as coisas
todas bem nutridas
brincando de roda


Mamãe o João me deu beliscão
Mamãe bate nele pra ele aprender
A não mais fazer
Tanta traquinagem
Que seja fraterno
Que seja irmão
E não tão malino
-Te aquiete, menino!

Mamãe tá doendo
Meu dente
O ouvido
Meu pé desmentido
Mamãe quero cólo
E cega o homem
Cansado
Insone
Com parco dinheiro
O mês ainda inteiro
E faz se as contas
Noves fora zero
Então o que sobra
É o amor nosso de cada dia.


Renildo Borges

A fé que carrega os homens

Quando alguém disser:
Vá com Deus!
Vá com fé sem tremedeira
e abra qualquer porteira
sem ter medo de carreira
de tantas mentiras dos homens
semeadas à beira de estrada
luas cheias, madrugadas
Lobisomem,Saci Pererê
Caipora e mais não sei o quê


Quando alguém disser:
Vá com Deus!
Vá com fé sem medo do homem
nem da peste que anda na escuridão
nem da mortandade que assola ao meio dia
Por que o Senhor é a tua armadura
contra as setas inflamadas do ódio
de homens escravos,cavalos de demônios...
filhos do pai de todas as mentiras

E quando te disserem Deus te abençoe
será por você ter dividido o seu pão
será por você ter estendido a mão
ao homem caído que não conhecia
mas que no fundo sabia que era teu irmão.


Renildo Borges

Por um pedaço de pão, qualquer um se vende ou mata.


Ah ! Se eu pudesse adormecer o dia
Antes que venha a hora do almoço
e a fome sente a mesa comigo e meus irmãos
de distantes lugares


Ah ! Se eu pudesse multiplicar por milhões de vezes
esse pedaço de pão “dado de coração” por um que passou
entre mil na avenida do mundo
Minha mãe me contou que um dia um homem fez isso
com um pedaço de pão e alguns peixes
mas poucas pessoas acreditam nisso


Ah ! Se eu pudesse convencer a milhões a trocar o preço
do carnaval,do futebol...pelo preço de uma vida
de quem dá
de quem recebe
Ah ! se eu pudesse.
te dizer da forma mais serena
que o homem com fome vira bicho e mata por isso.



Renildo Borges

Tapa na cara.


Acabou a madrugada
e meu sonho se foi com as estrelas
eu que só sonho de noite
longe de olhares pomposos
longe das dores do dia
escancarada e ingrata
por um prato de comida
estendo a mão aos que passam
distraídos e traídos
por seus ilusórios mundos
com seus perfis de mentiras
Q i
Status co
Classe
Cor
e raça
“Dingo Bel,dingo Bel
acabou o papel...”
o papel de babaca...
mais um enterro que passa.



Renildo Borges

O assassinato do plural.


Numa manhã sombria
na esquina da estupidez
do imenso mundo vazio
por detrás de um muro de indiferença
assassinaram nós
por motivo fútil
por puro egoísmo
o ego confessou
na hipocrisia
diante do espantado afeto
disse que nós atrapalhava seu eu.



Renildo Borges

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Entre ratos e parasitas.


Quando eu aprender a ir a escola sozinho
não me ofereça maconha
pra enganar a dor medonha
de ser um escravo solto
nos labirintos do mundo
entre ratos e parasitas
não serei mais um babaca
pra financiar os teus egos
mesmo se eu fosse cego
Oh covardes traficantes !

 
Quando nascer os meus pelos pubianos
não me ofereça status
nem viagem pra Paris
não serei tua meretriz
minha vagina exposta
manchada e masturbada
pelos doentes boçais
pelas bancas de jornais !

Quando eu for de maior e entrar no boteco
não me ofereça cigarros ou cachaça
que não cura a dor ou passa
de traficantes licenciados
pelos canalhas do estado
ratazanas de esgoto
que sempre posam de bom moço...
no horário nobre pra trouxas

Se um dia eu procurar Deus
não me cobrem o meu batismo
nem me venham com doutrinas de homens
catecismo...
não me digam o preço do homem
oh infames !
Nem me ofereçam uma passagem para o céu
Em troca de dízimo
Sofismo...
Por que vale o que está escrito
“Daí de graça o que de graça recebeste”

Renildo Borges

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Flerte


Troco um olhar por um olhar seu !
Se olhar...
Troco um sorriso por um sorriso seu !
Se sorrir...
Troco minhas palavras por palavras suas !
Se falar...
Troco meu abraço por um abraço seu !
Se abraçar...
Troco um beijo por um beijo seu !
Se beijar...
Troco o meu amor pelo amor seu !
Se amar...
Que seja então para sempre.



Renildo Borges

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Do Senhor vem todas as coisas e não dos homens.



Peguei um punhado de terra e levei a boca
Não tinha sal ou tempero era insossa.
Adicionei a terra um pouco de sol

insossa

Disseram bote um pouco de chuva
“mas eu não sabia fazer chuva e pus água do riacho”

Insossa

-Bote uma semente

Insossa

-Chame as abelhas,mangagavas,colibris, borboletas ou o vento
“Mas eu não sabia chamar nem controlar o vento”
para polinizar

-insossa

Então a sabedoria disse:
-Acrescente tempo e fé em Deus que no final terás frutos
de inúmeros sabores e de variadas cores.


Renildo Borges

No meio dos absurdos.


Algumas palavras voam
viram chaves
e abrem
baús de lembranças tantas
antigos sonhos
miragens 


Algumas palavras matam
o riso
o sonho
a alegria
mata também a coragem
pra prosseguir no outro dia
juntar os restos de ontem
os gritos,as palavras mansas
as falsas das verdadeiras
no peso das alianças

Algumas palavras pesam
na balança
no perdão
no frio gelo racional
e no fogo da paixão
mentiras versus verdades
respeito ou leviandade
inquietude e coração

Algumas palavras pedem
-Vem por aqui!Vem por aqui!
Mas lá parece tão bom
no reino da ilusão
no meio dos absurdos
das paixões que só duram uns segundos
dos que tem ouvidos
e não ouvem
dos que tem olhos
e não veem
que adentram na escuridão
infinita
e gritam ...e gritam...
nos becos que dão em nada
mentiras e madrugadas.


Renildo Borges

Alguns amores se põe com o sol mas o nosso dura a 27 anos


Ela gosta de novelas
Eu gosto de animal planet
Ela gosta de música gospel
Eu gosto de MPB
Eu leio livros às centenas
Ela dorme na primeira página


Ela gosta de tudo arrumado
Eu detesto por que nunca acho o que ela guardou
Ela acha que sexo tem hora
Eu acho que sexo é a qualquer hora
Ela me acha descansado
Eu acho ela veloz demais

Ela acha que eu não me cuido
Que não sei me vestir
Eu acho ela vestida linda
“depois de ficar 3 horas se arrumando”
Sem vestir mais linda ainda
Ela me acha inteligente demais
Mas sempre cobra resultado disso

Ela é a musa da minha poesia
Mas sempre acha que eu fiz pra outra
Ela se espalha pela cama como um lençol
E eu fico num canto da cama espremido
“olha que eu já tentei dormir sozinho,mas ela não deixou”
Ela aperta o creme dental pelo meio
Eu deixo roupas espalhadas pelo chão

Na verdade ela detesta quase tudo que eu gosto
E eu mais ainda o que ela gosta
Só em uma coisa concordamos
Que Deus é amor e por isso o amamos.
Mas se tivesse de voltar atrás e escolher
Eu escolheria ela novamente,
Alguns amores se põe com o sol
mas o nosso dura a 27 anos


Renildo Borges

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Um cara chato chamado tempo


Estava logo ali sentando
contando minhas gudes
Quando me chegou cara chamado tempo
me ofereceu barba e bigode
-Vê se pode!
Nem tenho cara de bode!


Depois me falou de uns pelos no sovaco
-Mas que saco!
-Também
Me irritei e perguntei pra que serve isso?
Masculinidade!
Ri pra valer e rolei pelo chão
-Tu és muito besta ou perdeu a visão.

Um dia estava eu ali soltando pipa
Chegou cara muito chato chamado tempo
E foi logo esticando minhas canelas
E engrossando meus braços
por que me achava fraco
Nessa não perguntei pra que servia
Por que meti a mão em Tonho de Luzia
Por que quando eu era franzino
sempre me batia

Um dia estava eu ouvindo causos
que os mais velhos conta
Quando chegou o tempo e me convidou
com uma cara esquisita...
Me mostrou uma coisa que nem vou falar
Disse que era bom que eu devia tentar
Larguei meu pião,minhas gudes e pipas
E fui namorar uma moça bonita.

Renildo Borges

sábado, 14 de janeiro de 2017

Muito além das consequências





Gostar de alguém não é uma coisa
que podemos escolher
como um par de sapatos,
uma roupa de frio
uma música
um bar
é algo além de nós
difícil de explicar

Que bom que é assim
pois não sabemos escolher
sempre nós erramos
até quando vamos comer
as vezes é saboroso
um bonito prato
as  vezes dá enjoo e vomitamos pedaços
palavras incompreensivas
restos de sonhos
tristeza e cansaço

Gostar de alguém não é algo que devemos estudar
Conselhos daqui
Censuras de lá
Uns dizem que é assim
Outros dizem que é assado
O tempo correndo e você
Ali pasmada !
-Como  não pude ver!
-Onde estava com a cabeça !
E chora sozinha com cara de besta.

Renido Borges

A Rosa e o espinho




Eu via ela nua,linda,sexy,quente...
Ela tinha os olhos limpos
Queria amor somente
Um abraço carinhoso
Uma palavra boa,uma flor
Tudo que se encaixasse
Dentro da palavra amor

Eu via as curvas dela
Lindas,perfeitas,sinuosas
Ela queria ouvir minha voz
Ver meu sorriso
Uns dedos de prosa

Eu via ela sussurrando...
Eu  e ela tudo se encaixando
Ela queria o amor que ela via
Entre seu pai e sua mãe
Como em sua família
respeito,lealdade,uma tradição
De branco no altar...
aliança na mão

Mas eu era imundo
vindo da ralé
sem pai e sem mãe
cresci no cabaré
-Amor segura ele só por uns instantes
Enquanto eu faço o mingau,o engrossante.

Renildo Borges

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Metade



Não vim te pedir pra ficar
Nem quero um último abraço
Mas quero a metade de mim
Que insiste em ficar nos seus braços


Não quero palavras bonitas
Pra enfeitar o que eu sei que perdi
Mas quero a voz que me falta
quando teus olhos ainda me fitas

Não digas outra vez nunca mais
por que tua voz e meus olhos nos traem
por que ainda nós somos metade
de uma estranha e triste verdade

Não vim te pedir outra vez
tantas vezes me trouxe cansaço
Mas devolvo a metade de ti
Que insiste em ficar em meus braços

Renildo Borges

Pai,Filho e Espírito Santo



Meu coração acredita
que as palavras benditas
que grita a sabedoria
pelas esquinas do dia
possa me trazer alento
nem que seja um momento

Notícias batem em minha cara
Teu filho fazendo isso...
Teu filho fazendo aquilo...
Cuidado! A MORTE VEM VINDO

Coração acelerado...
Um grito varando a noite
Tu existes ? Ou é mentira ?
ELE existe assim falou
cinco e meia da manhã
entre os raios da alvorada
anjos que estavam de guarda
-Fiquem em paz ! Teu filho vive.

Meu coração tá feliz!
o filho da rebeldia
era contra o que eu dizia
Também nada me trazia
apenas espera e agonia
sentou com a sabedoria
não sei se por horas ou dias

Estudou o livro santo
que encontrou pelos cantos
debaixo da superfície das
mais estranhas imundícies
que cometem os tolos homens
distorcendo a verdade
com sua estúpida vaidade

Meu coração Vai em paz
fostes fiel como sempre
e calou todas as serpentes
que riram sempre da gente
gente como eu e você
Que crê naquilo que não vê
que apesar de todas as pedras
duvidáveis das esquinas
Tu és Deus e ainda ensinas.

Renildo Borges

O dia em que você deseja desesperadamente que o trânsito esteja engarrafado e o táxi se atrase.


Preciso comprar uma flor,pra ela que é meu amor
Mas a preguiça me fala - Amanhã eu vou!
Preciso falar que ela é linda dentro daquele vestido florido
Mas qualquer porcaria que nem mesmo eu sei o que é
dentro da minha cabeça indefinida diz
-Ah! Ela sabe disso!
Preciso consertar o registro do chuveiro,
por óleo nas dobradiças da porta
pra que não fique rangendo sinistramente ,
quando ela às madrugadas vai ao banheiro.
Mas o jogo “call of duty” no pc diz
-Amanhã tu faz!
Preciso tocar teus cabelos,contemplar teus olhos lhe fazer
um carinho ,não carícia ,e dizer a ela
Quanto ela é importante para mim.
Mas a libido ou safadeza, sei lá qual é o nome dessa coisa ,me diz.
-Qual é ?
Olha as coxas dela,olha como ela está sexy!
Preciso saber agora como fazer ou o que falar pra ela ficar.
Por que ela já arrumou suas coisas,
tomou um banho e colocou um lindo vestido azul
e seus sapatos da mesma cor.
Está aguardando apenas o táxi.
Teus olhos parecem rir de mim,
do meu desespero, de uma forma bem serena ,
por que sabem que eu vou pedir pra ela ficar.
E um monte de coisas dentro de mim
Amor,paixão,desejo,dependência...
GRITAM :
-Ande logo,peça logo!


Renildo Borges

O que eu sinto por você acende a noite.


Saia da escuridão do teu quarto
teu amor não volta mais
Vem cá fora ver estrelas
Vem cá! Começar de novo...
Vem ver meu sorriso largo
e o brilho em meu olhar
O que eu sinto por você
acende a noite...


Vem cá fora vem me ver!
Não fui eu ,não fui eu
que o teu amor levou
nem moreno eu sou...
não deixe que o tempo derrame
o meu amor em gotas de vexame
pelos becos da rua solidão

Vem cá fora vem me ver!
já está findando a noite
e o vento sussurra em leve açoites
que numerosos lábios de frio metálico
me aguardam na rua da ilusão
mas eu nunca tive um beijo seu

Quem dera ,eu pudesse te tocar agora
Quem dera, eu pudesse te ver antes da aurora
Sentir o teu gosto em minha boca
Quem dera.

Renildo Borges

Sociedade anônima


A ilusão foi embora
por que lá fora escorria
pelas sarjetas verdades
pelas igrejas mentiras
pelos botecos amores
pelos cartórios utopias
por abraços que cobravam
às vaidades que serviam
e os sorrisos vendidos
pela imunda hipocrisia.


A ilusão foi embora
por que lá fora sorria
O surdo que ouvia bem
e o cego que sempre via
a esperança morrendo
e os gritos da agonia
pelos cantos ,desencantos...
na escura luz do dia.

A ilusão foi embora
por que em ninguém mais cabia
Os homens cheios de si...
Vazios de sabedoria.

Renildo Borges

Quatro ventos


Eu não tenho preço
não estou a venda
Também eu não sirvo
como oferenda
da tua vaidade
do teu faz de conta
do escuro rosário
de tristes lembranças...


Eu sou sal da terra
não palavras
aos ventos
tua ladainha...
não é meu lamento
Na Bíblia Sagrada
muito te estudei
tu és só bufão
e posas de rei

Sou filho da luz
conheço a verdade
a tua mentira não é caridade
de graça eu recebo
de graça eu dou
o pão ,oração,
carinho e amor.

Renildo Borges

Correndo dentro da noite


Correndo dentro da noite
A lembrança
Do teu rosto
Do teu corpo
Do teu cheiro
Do teu gosto


Correndo dentro da noite
Os fragmentos
Os momentos
Tão intensos
As promessas aos ventos
O arrependimento...

Correndo dentro da noite
As mãos vazias
As noites frias
Foi covardia
Você queria
Você podia
Ficar comigo.

Renildo Borges

Mãe Libé


Liberalina Sá Souto
Vai devagar pela estrada
Bença mãe libé!
Está velha mas não cansada
Bença mãe Libé!

Mãe Libé tem tantos filhos ...
Não de sangue
Mas de coração
Do parto
Das suas mãos.
Liberalina Sá Souto
Vai devagar pela estrada
O filho do carvoeiro...
Bença mãe Libé!
Um homem com uma espingarda
Bença mãe Libé!
A moça que vai casar
Bença mãe Libé!
O vaqueiro que vai aboiar
Bença mãe Libé!
Menino traz uma galinha
Bença mãe Libé!
Um outro traz a farinha
Bença mãe Libé!
Banana,bolo de tapioca,
camarão seco,
fruta do conde...
quer que bote onde?
Bença mãe Libé!
E assim ela leva a vida
Bença mãe Libé!
E assim ela é amada
Bença mãe Libé!
É noite,é madrugada...
Chama mãe Libé!
fulana tá embuchada
chama mãe Libé!
Nasceu ,já tá de resguardo
foi a mãe Libé!
Tem festa...tem temperada
Chama mãe Libé.

Renildo Borges

Desobediência


Me dizem: -Seja perfeito!
Me pergunto se há jeito
Por que
Lá fora neste instante ...agora
A fome sentou com um homem
Deve ter sido horrível o que ela disse
Por que o homem agora está triste.


Me dizem: -Seja feliz!
Me pergunto se há jeito
Por que lá fora neste instante...agora
O homem que semeou a semente
Delira e grita insistentemente
Onde está?
Onde está?
O pão está nas mãos de homens malditos
esbofeteia-lhe a notícia descaradamente
diante de meus olhos aflitos.

Me dizem:-Seja obediente!
Me pergunto se há jeito
Por que lá fora neste instante... agora
Bungaram a água que tinha
Não matei a sede minha
Os peixes morreram à tarde
Chamei todos de covardes...
na mão a arma ...coragem!
Mais vale a pena obedecer a Deus
que aos homens.

Renildo Borges

Tempo afora


Minha saudade saiu
porta afora
sem demora
sem vergonha
sem pudor
a procura do amor
se encontrou com uma moça bonita
que sorria
encantada
como as flores
pela estrada
era realmente uma moça bonita
por dentro e por fora
raramente vista
mas vestia um vestido de chita

Minha saudade saiu
porta afora
já sem pressa
com pudor
nos seus olhos
sem brilho e sem cor
preconceitos
não amor
Minha saudade saiu
porta afora
mas dentro de si
lavava o que via
com nojo das manchas
as marcas dos dias
que marcaram as moças
que foram enganadas
e até ultrajadas
no seu dia a dia
que seus olhos via
Minha saudade saiu
porta afora
era noite...escuridão
levava um desejo
em seu coração
queria dançar a sós
com as estrelas
longe e arrogantes
de brilho distante
longe do seu alcance
Minha saudade chegou
de madrugada
já cansada
de longa jornada
Trazia vergonha
mas nenhuma amada
Trazia sujeira
nos olhos e nas mãos
mas vazio estava
o seu coração.

Renildo Borges